sábado, 30 de outubro de 2010

Casa dos Segredos - Futebolistas

Segue dentro de momentos um novo programa televisivo: “Casa dos Segredos – Futebolistas”.
Todos eles têm um segredo em comum, que eu vou desvendar: nenhum deles é futebolista…
O onze é apenas constituído por jogadores (?) de clubes grandes Portugueses, logo, apenas três clubes… A parte interessante do jogo, é que cada jogador pensa que o jogador que está a seu lado é futebolista profissional… Qual será a reacção deles quando perceberem que, afinal, são todos pseudo-futebolistas?

A baliza fica entregue a Moreira, alguém que é apenas um adepto benfiquista com umas luvas de keeper calçadas. Aposto que se o Benfica o obrigasse a pagar para se sentar no banco de suplentes este não se importava... Caso consiga ganhar o jogo, será premiado com a titularidade na equipa de juniores de SLB (será aberto um precedente com o qual o produtor deste programa, Gilberto Madaíl, já concordou).

Na defesa: Grimi – por favor, se alguém perguntar, digam que ele esteve no Milan mas como roupeiro ou funcionário de limpeza… - Zoro, Polga – internacional Brasileiro, podem-se rir, não pagam multa – e Luís Filipe – não será melhor fazer outra inauguração ao estádio Alvalade XXI para que o nome do primeiro jogador a marcar lá um golo possa ser também alterado?

No meio campo temos do lado direito Mariano – só não percebi porque não foi para o Málaga, já que acho que o Prof. era o único que conseguia chamar “jogador” ao Mariano… Do lado esquerdo, o grande César Peixoto – está para JJ como a Diana Chaves está para o César Peixoto: são um fetiche, sendo que só é compreensível o fetiche do César pela Diana (nisso somos iguais César: temos ambos o mesmo fetiche e nenhum de nós sabe jogar à bola).

No miolo, dois craques: Izmailov – já conhece todos os cirurgiões de Portugal e agora parece que está a ficar craque em cirurgiões Alemães… Só ainda não consegue chamar médico a “Gomes Pereira”, mas a relação é recíproca, uma vez que Gomes Pereira também não lhe consegue chamar jogador… Caso vença o programa, será premiado com um joelho. Será auxiliado por Bynia, jogador dos quadros do SLB (se calhar é daqueles quadros que existem nas escolas onde se ensinam os alunos a ler e a escrever…).

No ataque, dois matadores: Mantorras – “sei que vou sair a bem do Benfica” – por acaso, 90% do Mundo futebolista pensava que já tinhas saído do Benfica há muito mas se tu dizes, a gente acredita… Caso vença o concurso, será autorizado a jogar sem que nenhum adversário lhe toque, fazendo jus ao apelo “deixem jogar Mantorras!”. Um matador sozinho não faz sentido, razão pela qual o seu parceiro será Yannick Djaló – tivemos que lhe pagar bastante para o concurso uma vez que estava a ser assediado pela concorrência para participar num filme chamado “O casamento de Floribela!”. Para terminar, falta o manager desta equipa.

Como não poderia deixar de ser, e porque o que é nacional é bom, Carlos Queiroz foi um nome consensual uma vez que só com a pedagogia de um Professor habituado a dar palestras de horas e horas nas quais David Beckam afirmou quase adormecer, será capaz de convencer onze estrelas (cadentes), que não são, afinal, jogadores…
Falta arranjar alguém que explique a Carlos Queiroz que ele também não é treinador.
Alguém se oferece?

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Comunicar tacticamente

Se disser que estar tacticamente perfeito num jogo é meio caminho andado para a vitória, penso que todos concordarão comigo. Afinal de contas, quanto mais e melhor um conjunto for capaz de tapar os espaços de forma precisa a nível defensivo e alargá-los no domínio atacante, mais probabilidades terá de sair vencedor.

Assistia ontem ao jogo Universidad Las Palmas – Atl.Madrid para a Taça do Rei (0-5) e dei por mim a pensar no papel ingrato que um treinador tem. Se tiverem oportunidade, revejam o 3º e 4º golo e perceberão rapidamente o que quero dizer. De facto, por muito que um treinador estude os adversários, ensaie exaustivamente o sistema táctico a implementar e os processos ofensivos e defensivos a executar, se não tiver jogadores que sejam suficientemente capazes de transpor esses princípios para o terreno de jogo, um treinador estará condenado ao fracasso.

É neste contexto que surge o especial realce que quero dar àqueles jogadores “invisíveis” que conseguem equilibrar as equipas. Estes conseguem, simultaneamente, ler o jogo do adversário e os movimentos dos seus colegas de equipa. Usando estes “dados”, posicionam-se de forma perfeita no sentido de, não só darem constante apoio ao nível do passe aos seus colegas de equipa no processo ofensivo da mesma, como rapidamente descerem no terreno e equilibrar a equipa defensivamente.

Moutinho consegue, neste momento, ser tudo isto! Já várias vezes referido por comentadores desportivos, é impossível não deixar de salientar o papel que desempenha neste FCPorto. Ainda que não tão exuberante como outros no plantel, conseguiu pela sua excepcional capacidade táctica ser, a par de Hulk o elemento preponderante na equipa azul e branca. Contudo, se Hulk decide ofensivamente, a verdade é que Moutinho consegue ser imprescindível nos dois processos da equipa.

Felizmente para todos nós, Moutinho parece estar a ser finalmente aproveitado na sua melhor posição na Selecção Nacional o que permite não só equilibrar a equipa como potenciar outros jogadores.

Como ele há muitos outros por esses campeonatos fora que, por não ocuparem lugares mais adiantados no terreno, nem sempre brilham como os outros para a opinião pública. É precisamente por tudo isto, que o meu voto para melhor jogador do ano transacto vai direitinho para Xavi!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

E quando os astros se alinham...


Quando os astros se alinham (e como se sabe ser difícil conseguir isto no meio desportivo) o resultado só pode ser algo estrondoso. E no Real Madrid é precisamente isto que está a acontecer.Sim, eu sei que este tema vem exactamente na linha do post anterior. Mas como os autores não combinam temas e o Real é a equipa do momento, esta situação era, no mínimo expectável. Voltemos então aos nossos astros.

Astros há muitos, já dizia o outro. E estrelas que brilham e se ofuscam, que ora aparecem em grande forma, ora desaparecem também. E para ter uma constelação que brilhe e se alinhe, todas as estrelas têm de estar ao seu nível e ter uma "estrela" central em torno da qual orbitar. Ora, que melhor equipa para personificar tudo isto actualmente que aquela intitulada de "Galácticos"?

A metáfora mais óbvia é a da estrela central, personificada na pessoa de José Mourinho. Uniu todas as outras estrelas à sua volta, num clube onde muitas estrelas têm passado e poucas têm brilhado continuamente com títulos. Mourinho tem sabido montar a sua equipa, puxar por ela e motiva-la, uni-la e compreende-la. Tudo o que o Real não teve nos últimos tempos.

Depois aparecem as estrelas com cada vez mais vontade de brilhar. Ronaldo lidera os melhores marcadores, fez 4 golos no penúltimo jogo (coisa que nunca tinha feito em toda a sua carreira) e parece estar a voltar à forma que o fez marcar 42 golos numa só época no Manchester United. Di Maria é claramente uma estrela em expansão, ataca e defende, dá tudo o que tem em campo (agora cá em Portugal é reconhecido por toda a gente, coisa que não se fazia quando vestia de vermelho). Casillas, tal e qual estrela polar com quem todos podem contar, mantém inviolada a baliza merengue. Todas as outras estrelas contribuem e trabalham activamente em prol de si mesmas e do universo a que pertencem.

Metáforas e personificações à parte este Real é uma equipa de galácticos, sem os tiques de vedetas habituais. E daqui só podiam surgir coisas boas. O Real tem capacidade para vencer tudo, tem um treinador que lhe dá motivação e liderança. Tem adeptos que sabem reconhecer o esforço da equipa. Tem tudo para ter sucesso. Veremos no desenrolar da época, se todo este potencial explosivo se confirma.

PS1: É um orgulho ver que nesta equipa de galácticos as maiores estrelas são estrelas do céu de Portugal.

PS2: Este texto foi pensado antes do jogo do Real para a Taça. Foi escrito depois e mesmo assim não se desvio nada do que tinha sido pensado...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Um Real mais inteligente


"O momento do jogo em que me diverti mais foi a ovação do Santiago Bernabéu a uma recuperação de bola do Di Maria (…) Este estádio não gosta só de magia, também gosta de trabalho. Isso para mim foi um momento importante, e quero passar essa mensagem aos meus jogadores."

José Mourinho
(na conferência de imprensa após o jogo contra o AC Milan)


Há algo de importante a crescer para os lados de Madrid. Todo um clube e provavelmente toda uma instituição se encontram numa discreta mas rápida metamorfose. Aos poucos, há um plantel, um staff, um público e até mesmo uma imprensa que está sendo modelada e tratada pelo que é, para mim, um dos melhores “psicólogos” do futebol moderno: José Mourinho.

Para mim, uma das melhores metáforas que se pode utilizar na forma como podemos ver uma equipa de futebol é vê-la toda como um organismo, como um ser individual com uma mentalidade e personalidade próprias. Assim, da mesma forma que num extremo temos equipas cautelosas e muito rígidas nos seus métodos de trabalho e de jogo no outro extremo conseguimos ver equipas demasiadamente expansivas e “lunáticas” que conseguem alternar gordas vitórias com derrotas inexplicáveis.

A verdade é que penso que as equipas orientadas por Mourinho não caiem em nenhum dos dois extremos. São equipas que dadas as circunstâncias de jogo sabem muito bem num momento acelerar e aumentar o caudal ofensivo para logo no momento seguinte de forma pertinente baixarem o ritmo e comportarem-se de forma mais cautelosa. A estas equipas que se auto-regulam, que se adaptam rapidamente e cujos jogadores se comportam todos de forma uniforme e consciente gosto de lhes chamar de equipas emocionalmente inteligentes.

Aos poucos o Real Madrid está a ser transformada numa dessas equipas e esta evolução está ser muito interessante de se acompanhar. Ser emocionalmente inteligente implica resistir aos nossos impulsos e adiar a gratificação de forma racional. Assim quando vejo jogadores como Ronaldo a resistir ao impulso de driblar um adversário e a dar a bola para ajudar a sua equipa a manter a sua posse ou quando vejo um Di Maria a correr desenfreadamente lutando para roubar a bola a um adversário e a manter um pressing eficaz, são tudo sinais de uma equipa que se sabe esforçar, sabe sofrer, sabe trabalhar, muitas vezes em detrimento do futebol fácil e bonito que apenas se desenrola quando têm a bola nos pés.

Lentamente os adeptos de Bernabéu vão-se apercebendo destas mudanças e por isso aplaudem, com razão.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Futebol sem adeptos? Não obrigado!

No meu último post fui apelidado de anti-portista por isso, para ser justo e imparcial, hoje serei anti-benfiquista.

Alguém me consegue explicar, no seu perfeito juízo, como é que um presidente apela à não presença dos adeptos nos jogos fora da sua própria equipa?

Está apenas a tentar usar a grandeza do clube a que preside para prejudicar claramente as receitas dos outros clubes, tentando fazer única e exclusivamente uma coisa: pressionar os árbitros!

Não é pelo facto de ter estabilizado as finanças do clube e fazê-lo regressar aos títulos que lhe assiste o direito de poder pedir aos adeptos que deixem de estar perto dos seus ídolos e de os apoiar.


O futebol é dos adeptos e para os adeptos… Caso estes não existam, o futebol deixa de fazer sentido: com estádios vazios, audiências da TV nulas e sem receitas de publicidade, como sobrevive o futebol? Se quer ser coerente Sr. LFV, porque não pede aos adeptos para não comparecerem nos jogos do Benfica em casa? Coerência precisa-se…


Como o ridículo parece não ter fim, para além da ausência de adeptos, este Sr. quer também impedir a equipa de se apresentar no jogo com o Dragão.


Com este gesto nota-se claramente que não quer apenas pressionar os árbitros: quer também mostrar que tem medo de perder o jogo dentro das quatro linhas, pelo que o prefere perder fora delas.


A todos os benfiquistas que costumam ir aos estádios apoiar a sua equipa, vibrar com ela, empurrar os jogadores para as vitórias, que dão um colorido aos estádios que normalmente se encontram vazios, não permitam que uma pessoa, com o intuito claro de pressionar a Liga e os árbitros, vos impeça de fazer aquilo que sempre fizeram em prol do vosso clube, daquele que sempre aprenderam a apoiar.


Porque afinal, ele é só o presidente do Benfica e não o presidente dos adeptos do Benfica…

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

À pedrada é que não!

O futebol é, por natureza, um desporto onde a emoção prevalece sobre a razão. Aliás, só assim se justifica a ligação quase umbilical que este desporto tem em cada um de nós. O lado emocional que não colocamos nas decisões do dia-a-dia, é transportado para o futebol e é aí onde todas as nossas emoções se revelam. O coração acaba por tolher a capacidade de análise e muitas vezes torna-se catalisador de inimizades, distúrbios e actos totalmente injustificados.

Recentemente, temos assistido a episódios que chocam qualquer pessoa e que nos levam a pensar na dimensão que o chamado "desporto rei" assume na sociedade. No epicentro de todas estas ocorrências externas e internas está, a meu ver, as cenas completamente inqualificáveis que todos tivemos a (infeliz) possibilidade de ver no jogo Itália-Sérvia. Mas será um simples jogo capaz de provocar tal desordem? O facto de um jogador mudar de clube para um rival justifica isto tudo? Agora pergunto - se, na nossa vida profissional tivéssemos a possibilidade de mudar para o nosso maior concorrente a receber mais e para abraçar novos desafios, quem não o aceitaria? Não mintam a vocês mesmo…

Tal como o meu colega Tres disse num post anterior, o futebol tem que ser olhado como um desporto jogado entre seres humanos e não como sendo um local para descarregarmos as nossas frustrações junto de outros que não vistam a mesma camisola. Já chega de pedras, de petardos, de cânticos racistas!

Aceito que é impossível controlar milhares de elementos de claques organizadas, mas duvido que os presidentes dos clubes não consigam orientá-los e minimizar os efeitos de rivalidades que a história não consegue apagar.

Não entendo igualmente, os clubes que se servem de actos de vandalismo de rivais para esconder outros problemas ou para desviar atenções. Aliás, considero que isso acaba por incentivar à violência do lado oposto… Esperemos que não!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Entrevista a Bernardino Pedroto - Parte II


10. A SUA IDA PARA O FUTEBOL ANGOLANO FOI UM DESEJO OU UM REFÚGIO? FOI PARA LÁ POR OPÇÃO, OU PORQUE NÃO TINHA PROJECTOS PARA ABRAÇAR EM PORTUGAL?
Por ventura, de tudo um pouco. Foi um desejo mas não um refúgio, a vida só pode ser vivida quando pode ser consciente, aqui talvez tenha percebido que o espaço de "manobra" em Portugal estava a ser...demasiado inacessível para as características da minha Personalidade e a minha forma de ver as coisas, que é literalmente diferente da maioria dos que dirigem os destinos dos seus clubes e o Futebol Português. Não que a minha seja a mais correcta, não é isso que pretendo dizer, apenas que....... é diferente, como todos nós o somos, diferentes. Penso que dá para perceber, não?
A vinda para Angola, foi uma, ou talvez a maior e mais dificil das decisões que tive na minha vida. Hoje, não estou nada arrependido, antes pelo contrário. Sou um Homem e um Profissional orgulhoso do meu trabalho e do contributo que ele tem manifestado para os treinadores e o povo Português. Quando nos encontramos nesta posição, imigrantes, somos "forçados" a ver as coisas de forma distinta e a não esquecer quem somos e quem representamos, com a máxima diplomacia que estes valores morais e éticos requerem. É o que tenho procurado fazer.

11.O JOGADOR ANGOLANO É, NÃO RARAS VEZES, ASSOCIADO A UMA CERTA INDISCIPLINA TÁCTICA QUE ACABA POR PREJUDICAR OS SEUS ASPECTOS POSITIVOS COMO A TÉCNICA E A PAIXÃO PELO JOGO. CONCORDA COM ESTA ANÁLISE?

Não é tanto assim. O enquadramento táctico individual e colectivo, é complicado para todos os jogadores do Mundo, não é exclusivo do jogador Angolano ou Africano, que por acaso alguns destes jogam ou evoluem, como quisermos, nas melhores equipas Mundiais. Os melhores neste capítulo, são os melhores do Mundo, são aqueles que jogam nos melhores clubes do Mundo.

Hoje, mais do que nunca, são raros os jogadores que associam os conteudos técnicos à intelegência para o jogo; os conteudos tácticos à velocidade do jogo; a velocidade à intelegência para o jogo, até à Personalidade necessária para as diversas exigências específicas que o jogo requer. Ou seja, jogar perante o público (estádios cheios; final da CL.; Final do Campeonato Mundial), ou enfrentar as críticas dos "media", dos seus treinadores e ou dirigentes.
Tudo não passa por uma questão de oportunidades. Se um Jogador Angolano tiver a oportunidade de conviver (treinar e jogar num bom clube em Angola ou num clube Europeu) de uma forma sistemática e sistematizada, com correctos processos de treino e estimulos adequados, e como referi atrás, junto às características pessoais que possuem, sobretudo fisicas e mentais, são, indiscutivelmente, pressupostos para se desenvolverem ao mais alto nível, tornarem-se em atletas de alto rendimento. Não tenho dúvidas quanto a isso. Trabalho e muita persistência, é o que se pede.

12. ANGOLA ESTEVE PRESENTE NO MUNDIAL EM 2006, TENDO NO SEU PLANTEL DA ALTURA JOGADORES QUE SE DESTACAVAM INTERNACIONALMENTE (ZÉ KALANGA, MANTORRAS, GILBERTO, FLÁVIO). ACHA QUE ACTUALMENTE EXISTEM JOGADORES ANGOLANOS CAPAZES DE FAZER OUTRO BRILHARETE IGUAL?

Acredito que sim. Embora tenhamos que reconhecer que as gerações de jogadores com excelência, são ciclicas e raras. Não há "Eusébio's"; "Péle's"; "Maradonas" ou Messis e Cristianos todos os dias. As excelências como disse, são raras, têm uma forma de lidar com o Mundo diferente de todos os outros, são críticos de si próprios, procuram constantemente a perfeição, possuem uma "veia" Artística (é o que eles são, Artistas.... do melhor) que é inata, pessoal e intransmissível. Por estes motivos, digamos, não é fácil, mas existem sim, jogadores que se poderão tornar os ídolos de agora, os alvos preferenciais dos que amam esta ciência e nela se revêm. Mas, e há sempre um mas, por vezes não está só nas mãos (pés) destes a possibilidade de chegar a um Mundial, é preciso, como refiro constantemente, um enquadramento competitivo, organizativo e profissional, que assegure o(s) caminho(s) correcto(s) para atingir esse fim. Melhorar as infraestruturas; condicionar as ingerências dos não classificados na organização e regulamentação dos quadros desportivos e seus regulamentos; administração de acções de formação de Técnicos Desportivos............. Enfim, uma abundância de projectos que devem sair definitivamente das "gavetas" e colocados na práctica, sob pena de a ida ao Mundia na Alemanha (2006) se ter tornado num caso fortuito de felicidade abundante e não de um persistente trabalho e qualidades profissionais dos seus Técnicos, Jogadores e Dirigentes. Normalmente e infelizmente, é o que acontece. Acredito que Angola e todos os agentes desportivos envolvidos nestes projectos, estão a procurar encontrar estas e outras soluções adequadas para que os "Zé Kalangas", "Mantorras"; "Flávios" e Gilbertos, não acabem. Estão apenas a conviver com um periodo de "estágio" inevitável e quem sabe, fundamental passar para encontrar o caminho certo e com os riscos a eles inerentes.

13. SENDO NÓS ORIGINÁRIOS DE BARCELOS E TENDO O BERNARDINO PEDROTO DIRIGIDO O GIL VICENTE NAS ÉPOCAS DE 1995/1996 E 1996/1997, QUE RECORDAÇÕES GUARDA DESSE PERÍODO?

Os melhores. O "Gil" foi um clube exemplar para os meus objectivos profissionais. A qualidade Humana dos dirigentes que compunham a Direcção do Clube, como são os casos (que me desculpem os outros, que adorei conviver com eles) do Sr. Francisco Dias e do Sr. Mário Mano. Gente de uma qualidade humana e Profissional extraordinária. Bem Hajam. Não foram momentos brilhantes, mas foram nobres. O meu contrato foi interrompido com o Gil em 1996/ 1997, para muito desgosto meu, acreditem que nenhum Treinador, apesar de preparado para estas situações, nunca o está verdadeiramente. Lamentei bastante. Mas, a minha vida continuou e, hoje posso dizer-vos, vejam bem como são os sinais de amizade que é possível construir através do Futebol, que ainda mantenho contacto (uma vez por outra vamos almoçar) com os Srs, Francisco Silva e Mário Mano entre outros, o Sr. António Augusto, um crítico intransigente da minha pessoa mas muito sincero e frontal. Peço desculpa mas há outros cujos nomes agora não me vem à memória (para nomes sou uma lástima) mas que também fazem parte das memórias, boas naturalmente, que tenho da passagem pelo "Gil".
Boa sorte para o "Gil", que tudo lhes corra bem.

14.DIZER QUE O SEU PAI FOI O MOURINHO DO FUTEBOL PORTUGUÊS É UM ELOGIO PARA O SEU PAI OU PARA O MOURINHO?

Nós somos seres Imperfeitos. É evidente que essas imperfeições não devem ser vistas como anormalidades, a perfeição é que é anormal. Isso não invalida que procuremos o Aperfeiçomento Pessoal, que é, naturalmente, diferente. Um (José Maria Pedroto) e Outro (José Mourinho) enquadram-se perfeitamente nesta filosofia. São inquestionávelmente dois dos Melhores Treinadores do Mundo, os melhores em Portugal, cada um marcando gerações diferentes, mas iguais no melhor e no pior que cada um transportou ou transporta consigo. Dizer que o meu Pai foi O Zé Mourinho do Futebol Português, não é nem deixa de ser elogioso para um ou outro. São diferentes mas iguais. Nem um Melhor ou outro Pior. Ambos têm ou tiveram defeitos e virtudes. Perderam e ganharam. Riram e Choraram. Simplesmente, dizer: "Obrigado por tudo o que Fizeram (meu Pai) e estão fazer (Zé Mourinho) por nós, Futebol Português no geral e Treinadores no particular. Bem hajam.


15."GOSTARIA IMENSO DE TREINAR O FC PORTO, DIGO-O SEM RECEIO ALGUM. É UM CLUBE ORGANIZADÍSSIMO, EM QUE A ÚNICA COISA QUE UM TREINADOR TEM QUE SE PREOCUPAR, ASSIM COMO OS JOGADORES, É TREINAR, O RESTO ESTÁ TUDO ORGANIZADO. ALI, SÃO OS JOGADORES QUE TÊM O PROTAGONISMO MAIOR, SÃO ELES A PEÇA CHAVE DE TUDO O QUE ENVOLVE O FUTEBOL" (BERNARDINO PEDROTO, AGÊNCIA LUSA).


CONSIDERA QUE A ORGANIZAÇÃO DO FCPORTO É O GRANDE FACTOR QUE TEM LEVADO O CLUBE A DOMINAR O FUTEBOL PORTUGUÊS NOS ÚLTIMOS ANOS?
Não tenho duvidas nenhumas que a organização do FCP é, e foi um garante importantíssimo para o salto qualitativo que este clube teve nos ultimos 30 anos. E não só. Hoje tornou-se num modelo orgânico para muitos clubes de renome Mundial. Possuem Visionários mas não utópicos planos estratégicos. Partilham entre todos os que trabalham naquele clube, Resistências quanto a aceitar uma derrota. A alternativa à Vitória é inaceitável. Por isso acabaram por perceber o que é necessário para alcançar a(s) Vitória(s). Muito trabalho e muita dedicação.

Naquele Clube não dormem, descansam. Não há plano "B", só Vencer.


16.TENDO EM CONTA A SUA LONGA E PREENCHIDA CARREIRA, E O PRIVILÉGIO DE TER TIDO CONTACTO COM DIFERENTES GERAÇÕES QUE MARCARAM O NOSSO FUTEBOL, CONSEGUIRIA ELEGER UM ONZE IDEAL?

Não, de todo impossível. São tantos e tão bons que seria muito injusto fazê-lo. Por respeito, por ética e por ........necessidade emocional. Grandes jogadores que Portugal teve e tem. Separá-los dos e por pormenores, não me parece saudável. Gosto do meu País. Gosto do Futebol Português. Só não gosto o que de vez em quando fazem ao Futebol do Meu País.


Um grande abraço dos membros do FutebolStorming para o Mister e toda a sorte do mundo na sua carreira profissional. Que continue na onda das conquistas e a ensinar-nos com as suas sábias palavras!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Entrevista a Bernardino Pedroto - Parte I

Ponto prévio dos membros do FutebolStorming: Um obrigado e um reconhecimento ao Mister Bernardino Pedroto pela disponibilidade, frontalidade e humildade. Fica aqui um exemplo para muitos.

Que o sucesso continue a perdurar na sua carreira!

1.ESTÁ EM ANGOLA DESDE 2000, TENDO GANHO TUDO O QUE PODIA GANHAR INTERNAMENTE. CONTINUA A SER UM DESAFIO PARA SI TREINAR EM ANGOLA?
Um treinador quer sempre ganhar mais, mais e mais. O desejo de ser vencedor em qualquer competição onde estamos inseridos, faz parte da nossa natureza, ninguém se lembra dos que perdem, apenas daqueles que vencem, é assim que funciona a consciência das pessoas e as suas imperfeições. Assim, e em relação a esta questão, é realmente um facto que em Angola (desde o ano de 2000 - Jun) já ganhei todos os títulos internos (10 Títulos: 5 CN, 3 pelo ASA e 2 pelo Petro; 4 ST e uma TA, estes troféus foram no ASA) que há para conquistar mas continuo com estímulos muito elevados, porque cada troféu conquistado, envolve-nos um prazer e uma satisfação renovados. É o reconhecimento do nosso trabalho e, é a única solução que encontramos para dar significado ao trabalho que desenvolvemos.

Como é normal nestes casos, não posso deixar de incluir nesta ambição pessoal em que estou envolvido, ainda que moderadamente, como se impõe, a conquista de títulos internacionais: ganhar a Liga dos Campeões bem como outras competições Internacionais no Continente Africano. Mas, como se compreende, não são tarefas fáceis, existem razões de ordem organizativa e competitiva que neste momento são incompatíveis com a realidade Angolana. Os níveis de maturidade competitiva que estas competições exigem são, ainda, demasiado elevados para o Atleta Angolano. Existe ainda muito trabalho a realizar, na formação e a sua organização competitiva (calendarização de jogos; campos; formação de treinadores; etc.), bem como no quadro Profissional (os atletas não são profissionais, embora funcionem como tal: carga horária de treinos, etc.). Mas, reconhecidamente, devo dizer que existe um Potencial Humano extraordinário: têm uma paixão enorme pelo jogo; revelam uma generosidade incompatível no trabalho diário e, possuem uma inteireza e uma integridade invejável de valores morais… Enfim, são "argumentos" que deixam transparecer um futuro risonho.


2. NUM PAÍS ONDE VÁRIAS PESSOAS PENSAM OU CONHECEM ALGUÉM QUE PENSE, EM TRABALHAR EM ANGOLA (NO RAMO FUTEBOLÍSTICO E NÃO SÓ), O QUE É QUE NOS PODERIA DIZER ACERCA DO DIA-A-DIA DE UM TRABALHADOR PORTUGUÊS NESTE PAÍS?
Trabalhar aqui ou em Portugal ou na China, o processo é sempre o mesmo: "A mais fundamental das forças motivadoras do Homem, é o desejo de ser". Quando olhamos para o que fazemos desta forma, sem causar danos a ninguém, estamos a fazer as "coisas" bem feitas. A Paixão por aquilo que fazemos é fundamental. Sei que nem todos têm a possibilidade de ter um emprego que gostem e que gostem daquilo que fazem, é verdade, mas sem vontade, aqui ou noutro local qualquer, tudo se torna mais escuro e de dificil comtemplação, o desejo de ter prazer no que se faz, é essencial para todos. Fui suficientemente claro? Espero que sim.

3. O QUE É HOJE ENQUANTO TREINADOR, DEVE-SE A ALGUMA APRENDIZAGEM PARTICULAR QUE TEVE COM O GRANDE MESTRE DO FUTEBOL QUE FOI O SEU PAI?
A nossa vida é um acumular de experiências, feita de escolhas e tomadas de decisões que envolvem risco e às vezes conflitos...de ideias ou processos. O que sou hoje como Treinador, deve-se em muito à minha forma de encarar o Mundo, abrangendo a Lógica, a Ética, os Valores, e o Racionalismo que nelas se envolve, obrigando-nos a pensar pela própria cabeça, a ser muito exigentes connosco e com quem lideramos e, procurando sempre fazermos uma avaliação do noso trabalho e do que representamos para os que lideramos.
Bebi destes conhecimentos de muitos Treinadores que tive na minha carreira com jogador, entre muitos (Angelo Martins -"2.º Pai" e o meu 1.º Treinador; Jimmy Hagan - "O Rigoroso"; Fernando Cabrita "O Determinado"; Mário Wilson "O Filosofo" - bem haja grande capitão, por tudo o que fez por mim, muito reconhecido, acredite; Mário Caiado - "O Perfeccionista"; Manuel de Oliveira - "O Catedrático"; António Medeiros - "O Engenhoso"; Manuel José - "O Disciplinador"; Vitor Oliveira - "O C..... Competitivo"), o meu Pai, "O Mestre". Como se percebe, sou um pouco de todos, "SOU EU".

4.CONTINUA A ACOMPANHAR O FUTEBOL PORTUGUÊS? QUAL LHE PARECE SER A EQUIPA COM MAIS CAPACIDADES PARA SE SAGRAR CAMPEÃ ESTA ÉPOCA?
Seria de todo impensável que neste momento não sugerisse que o futuro Campeão Nacional vai ser o FC Porto. Agora... Mas como sabem o Futebol é composto por um conjunto de factores aleatórios, imprevisíveis, de forma que tudo pode vir a acontecer. Não era, isso sim, esperado que o início de Campeonato do Benfica e Sporting fosse, digamos, irregular e inconstante do ponto de vista exibicional. "Ajuda" que o FCP agradece. Mas como se costuma dizer: "Até ao Lavar dos Cestos é Vindima". Que nisto do Futebol, também se costuma dizer: "candeia que vai à frente..."


5.FAZ PARTE DA HISTÓRIA DO VITÓRIA DE GUIMARÃES QUER COMO JOGADOR (DURANTE 7 ÉPOCAS), QUER COMO TREINADOR (DURANTE 2 ÉPOCAS). O CLUBE É, DE FACTO, TÃO ESPECIAL COMO TRANSPARECE AO PÚBLICO EM GERAL?
O Vítória de Guimarães é indiscutivelmente especial. É o Clube da Cidade, de uma região, as pessoas amam o seu Clube. Existe uma Paixão que se torna por vezes inexplicável. Essa Paixão conduz a emoções e sensações inconscientemente valorizadas pelo positivo (quando se ganha) e pelo negativo (quando se perde). Mas é um simbolo para todos. As pessoas revêem-se no seu Clube. As imperfeições não são vistas como anormalidades, as pessoas são como são, têm coisas boas e coisas más. Mas como saber o que é bom? Se perguntar a um Vitoriano, ele responde: "É o Meu Vitória ganhar". Não é muito importante se o seu salário está em dia ou se ficou desempregado no dia anterior, isso são questões nada importantes comparadas com as emoções que o "Nosso" Vitória nos proporciona. O Vitória é assim. Ou se gosta........... Fui Muito Feliz no VSC. Se não me deu tudo.... quase. Valorizei-me em todos os aspectos, quer Humanos, quer Profissionais.

6.FOI CAMPEÃO NACIONAL COM O BENFICA NA ÉPOCA DE 1972/1973 COM UMA HISTÓRICA CAMINHADA ONDE O SALDO FOI DE 28 VITÓRIAS E APENAS 2 EMPATES. UM DOS SEUS COMPANHEIROS DESTACAVA-SE DOS DEMAIS – EUSÉBIO. ERA, DE FACTO, UM FORA-DE-SÉRIE?
Eusébio......... meu Deus, se era um fora de série? Em tudo. Como Homem (ainda hoje somos amigos) e como Jogador, um Deus na Terra. Uma pergunta tão difícil, merece apenas uma resposta simples e objectiva como esta, desculpem, era assim que ele via o jogo e vê a vida, com imensa integridade


7."É DIFÍCIL EM PORTUGAL DAR A UM TREINADOR COMO O JORGE (JESUS) UMA OPORTUNIDADE. ESTE SERÁ UM EXEMPLO DAQUILO QUE MUITOS TREINADORES DA SUA GERAÇÃO, COMO É O MEU CASO, PODEM DAR AOS CLUBES PORTUGUESES". (BERNARDINO PEDROTO NA RTP EM OUTUBRO DE 2009).

COM TODO O SUCESSO QUE TEM OBTIDO EM ANGOLA HÁ MAIS DE UMA DÉCADA, SENTE QUE EM PORTUGAL NÃO LHE DÃO O DEVIDO VALOR?
Como vos disse atrás, Eu vejo as coisas de forma diferente, não que seja a melhor...é a minha, desenquadrada com o momento? Talvez. Mas, seguramente vos posso dizer que, se tivesse ou me fosse concedida a oportunidade de trabalhar de novo em Portugal, não hesitaria. Contudo, e pela experiência acumulada ao longo da minha carreira, percebendo que devo ser suficientemente liberal para considerar todas as opções, não deixarei ao mesmo tempo de ser suficientemente cauteloso para escolher aquela que estará certa para mim. Não quero pagar um preço a que já fui sujeito, tenho esse direito. O de escolher o que me for mais conveniente. Para encontrar o meu caminho, fui intolerante e crítico comigo próprio, fui exaustivamente incansável na procura do conhecimento, estudei e estudo muito o futebol, penso e executo pela minha cabeça, procuro ser eficaz e influenciar aqueles que me seguem, preparei-me toda a vida para estar pronto para quando o momento chegar. E acreditem que quando chegar, ESTOU PRONTO!!!!.
Procuro sempre ser o mais verdadeiro, até mesmo quando dói; o mais íntegro; o mais autêntico, não fingir ser algo que não sou por conveniência de outros (subserviência); imponho disciplina a mim próprio.
Estas são as características que imponho ao meu trabalho e aqueles que Lidero, sabendo que em colectivo, "Tu consegues fazer aquilo que eu não consigo, Eu faço aquilo que Tu não consegues fazer, Juntos Faremos Grandes Coisas" (Madre Teresa de Calcutá). Nunca fui Pessoa de Ordenar, mas sim de convencer. Nunca fui Pessoa de Impor, sempre sugeri. Quando o dia chegar, se chegar, cá estarei. Mas como o velho ditado diz: "A casamentos e baptizados, só vão os convidados"
Ao Jorge Jesus, um Treinador da minha Geração, só lhe desejo a maior sorte do Mundo. Força Jorge.

8. JÁ REFERIU RECENTEMENTE QUE UM DOS SEUS OBJECTIVOS PASSA POR VOLTAR A TREINAR EM PORTUGAL. NÃO TEME QUE, ESTANDO PARA JÁ AS PORTAS PARA OS QUATRO GRANDES FECHADAS, NÃO SURJAM CONVITES SUFICIENTEMENTE ALICIANTES PARA SI A NÍVEL NACIONAL?
Como disse atrás, não penso única e exclusivamente em treinar um grande do futebol Português. Se fosse possível, tanto melhor mas, sobretudo um projecto válido, coerente com os meus princípios e a minha filosofia, ter a oportunidade de fazer a escolha certa será de entre outras coisas a mais importante. Saber qual a escolha certa não deixa de constituir um problema também, mas que me permita pensar por mim mesmo, onde encontre soluções e satisfação para os objectivos em causa. Defendo valores éticos muito importantes na minha vida, que desejo não haver nesta entrevista qualquer tipo de sinais que ven
ham a ferir susceptibilidades, sobretudo as dos meus colegas que neste momento estão a trabalhar nesses clubes... Estou apenas a entrar no campo da especulação, melhor...do racionalismo virtual.

9. HOJE TEM UMA VISÃO MAIS DISTANTE E AO MESMO TEMPO MAIS RACIONAL DO FUTEBOL PORTUGUÊS. COMO É QUE OS “ESTRANGEIROS” VÊM O NOSSO FUTEBOL?
Tirando algumas situações pontuais ("novela" Queiroz - uma vergonha para o futebol Português FPF.....), existe um grande respeito e reconhecimento por tudo o que tem sido realizado nestes últimos anos (10/ 12). Que esta mudança, Carlos/Paulo, tenha consequências positivas, não apenas dos resultados desportivos, mas também da necessidade analítica que este e outros casos vêm sugerido que se faça com a máxima urgência - uma verdadeira reflexão de toda a estrutura organizativa, nos planos práticos ou executivos, bem como nos estratégicos ou tácticos (não estou a falar da táctica de jogo, não). Nada mais.

Não percam amanhã a 2ª parte da entrevista onde é abordado o campeonato angolano, a estrutura de um clube português e a relação Mourinho/Pedroto! Entre muitas outras coisas...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Segue o teu caminho com muita tranquilidade...



Ainda não tinha sido tratada neste blog a contratação de Paulo Bento para a Selecção de todos nós. Num dia em que Portugal termina uma jornada dupla com duas boas vitórias (uma delas contra um adversário directo) deixo aqui uma carta aberta a Paulo Bento:

Justificar completamente
"Caro Mister Paulo Bento,

Escrevo esta carta certamente numa posição melhor que a sua quando assumiu o comando da Selecção de Portugal. Principalmente porque eu já sei o resultado dos dois jogos que efectuou e você assumiu o comando de uma selecção sem certezas, sem rumo, com uma direcção com falta de ideias, com jogadores divididos e até alguns, pelas mais variadas razões, a abandonar a selecção. Estou portanto numa posição onde me é fácil falar pois tenho factos concretos onde me apoiar.

Esta carta serve principalmente para manifestar a minha concordância com a decisão da Federação (finalmente uma boa decisão) de o contratar. Fiz a piada da "tranquilidade" com os meus amigos, mas acreditava que o Paulo poderia dar um novo ânimo a nossa selecção. Foi o que aconteceu.

O Paulo tinha pouca ou nenhuma margem de manobra. Por isso tomou a melhor decisão: rodeou-se de jogadores que conhecia (do campo ou do banco) e em que confiava, mesmo sendo muitos deles os que eram anteriormente criticados. Pôs Moutinho e Coentrão a jogar como gostam, deu nova vontade de jogar a Ronaldo (de quem já todo o país duvidava que fosse capaz de jogar na selecção), deu espaço a Nani. Os seus jogadores dizem que criou um ambiente muito bom. Dou-lhe os Parabéns também por isso pois sei que não é fácil criar isso numa equipa com quem se está apenas alguns dias por ano.

Agradeço ao Paulo por ter virado para a Selecção um país que com ela estava de costas voltadas. Esta vitória já ninguém lhe tira. Espero que leve esta equipa a muitas outras , rumo ao próximo Europeu."

sábado, 9 de outubro de 2010

Os Intocáveis


Os primeiros olheiros começam a ser os amigos e os vizinhos. Nos recreios das escolas, nos ringues e nas ruas dos bairros, durante as nostálgicas jogatanas habituais entre os colegas, já algo de invulgar começa a despontar. É ele a vedeta, o craque, o miúdo em que não se hesita em escolher primeiro para a sua equipa. É o rapaz que finta todos, faz coisas incríveis, faz os passes de génio, que faz os golos parecendo tudo fácil, com ele na equipa todos sabem que a vitória é certa!

O miúdo craque começa a acreditar que realmente é muito bom no que faz e nem vacila em entrar no clube local, começa a ficar obcecado com os treinos e em melhorar naquilo que ele é e acredita ser um génio. Os jogos do clube são para ele iguais às partidas de rua com os amigos e volta a brilhar e a dar nas vistas. No meio de enorme genialidade, o brilho chega aos olheiros dos grandes clubes. O estrelato é já ali, tão perto, tão fácil de se agarrar, o ciclo vai-se repetindo até que por fim chega-se ao topo e faz-se um ídolo, uma estrela galáctica perante a qual o mundo faz uma vénia.

No entanto, há fases assim. Com o sucesso, elevam-se exponencialmente as expectativas que acabam por não ser satisfeitas. Os passes falham e os remates saiem precipitados, tudo realçado pelos resultados insatisfatórios da equipa. Como adeptos frustrados e furiosos, tornamo-nos de memória curta e recorremos à acusação fácil. Afinal ele não era uma estrela? Não era ele o génio que nos iria conduzir à vitória? Porque ganha tantos milhões então? Tirem-no já! Ponham-no no banco!

Mas no fundo, bem no fundo sabemos que não é isso que queremos. O treinador também sente o mesmo e por isso não o faz. Porque afinal de contas para nós continua a ser a estrela, o ídolo, a vedeta, o rapaz em que todos nós sabemos, como bem sabiam os seus extasiados colegas da escola e amigos da rua, que a qualquer momento poderá surgir o rasgo de génio que levará à tal vitória certa e que tal será impossível se ele estiver no banco. Há jogadores assim. Intocáveis. Aqueles que escolheríamos sempre primeiro para a nossa equipa.

Ontem vimos um deles.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Até que a máscara caiu…

Somos todos coerentes nas vitórias. Afinal, até não é muito difícil saber ganhar…

Se a nossa equipa joga bem, pratica um futebol atraente e vistoso, é unanimemente considerada a melhor equipa do campeonato, leva vantagem considerável sobre os mais directos adversários e se temos consciência que somos em grande parte responsáveis por tudo isto, sendo repetidamente elogiados pela crítica, só temos por que sorrir, ser cordiais nas conferências de imprensa, falar de fair-play, ser ética e politicamente correctos, coerentes… Afinal, (ainda) não tinha surgido qualquer imprevisto…

Até que, perante a primeira contrariedade, um empate, deixamos tudo aquilo que fingimos ser para trás, e nos tornamos arrogantes, ofensivos, duros, mal-educados e mostramos que afinal tudo o que vínhamos sendo até aqui não foi mais que uma farsa… Fomos apenas uma máscara, que nos permitiu esconder o que verdadeiramente somos.

E aí, claro, a responsabilidade não é nossa...

Aí vem ao de cima o que conseguimos esconder durante algum tempo… Vem ao de cima aquilo que verdadeiramente somos, aquilo que de mais fraco temos, aquilo que não queríamos que ninguém soubesse que fazia parte de nós…
Mas, naquele momento, não fomos capazes de nos controlar, não fomos capazes de pedir desculpa pelas figuras ridículas e patéticas que fizemos, pelo descalabro emocional revelado, pelas pessoas que pusemos em causa, por termos disparado em todas as direcções, por termos sido cobardes ao ponto de acusar aqueles que não têm direito de antena para se defenderem.

Alguém disse uma dia que odeia ser enganado… Eu também! Mas tu enganaste-me… Não perco a admiração pelo teu trabalho, não deixo de te venerar profissionalmente mas nunca conseguirei olhar para ti da mesma forma porque antes de seres treinador, és um homem, com um “h” pequeno, pela pequenez demonstrada perante a primeira contrariedade!

Se na hora do empate reagiste assim, como será na primeira derrota? Ou acreditas mesmo que és invencível?

Podemos enganar todas as pessoas durante algum tempo, algumas pessoas durante todo o tempo, mas seremos sempre incapazes de enganar todas as pessoas durante todo o tempo!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Entrevista a Luís Tinoco - jogador do S.C. Beira-Mar


1.Subiste dos juniores do Gil Vicente para os seniores, onde não conseguiste permanecer e agarrar um lugar. Entendes que existe um fosse demasiado grande entre juniores e seniores?
Existe claramente um grande fosso entre juniores e seniores, visto que são intensidades de jogo completamente diferentes. Claro que nos grandes clubes essa diferença é menos significativa mas nos clubes de menor dimensão essa diferença nota-se bastante.

2. Foste um dos três classificados no programa televisivo Soccastars. Consideras que isso foi uma rampa de lançamento ou um deslumbramento?
Não foi nem uma coisa nem outra, visto que, não tirei dividendos nenhuns dessa situação profissionalmente. Mentalmente ajudou o quanto baste. Consegui, a partir daquela altura, lidar melhor com a pressão e deu-me alento para continuar uma vez que tinha sido dispensado dos juniores do Gil Vicente.

3. Agora que começaste uma nova aventura num clube de maior dimensão e num campeonato indiscutivelmente mais competitivo, sentes de alguma forma uma maior pressão e responsabilidade de te mostrares ao melhor nível?
Essa pressão existe indiscutivelmente porque já passei por cá uma vez, embora fosse bastante novo, e as coisas não correram como esperaria. Tenho agora a segunda oportunidade de jogar ao mais alto nível e de provar a muita gente que tenho valor para estar aqui, embora no passado não tenha sido tão maduro e aconselhado como desejaria.

5. Tiveste que sair da tua cidade e do teu país muito novo para, mais tarde, ser possível regressar. Sentiste que, de facto, os clubes nacionais não apostam devidamente no jogador nacional?
Os clubes portugueses subvalorizam claramente os jogadores nacionais, optando muitas vezes por preferir jogadores estrangeiros, nomeadamente sul-americanos, obrigando por vezes os jogadores a procurarem trabalho fora do país para se valorizarem. Acho que em relação a toda esta situação estamos muito atrás de outros países europeus que dão sempre preferência aos jogadores do próprio país, criando inclusive leis que obrigam os clubes a colocar ou um número restrito de estrangeiros ou como em Itália cada equipa deve ter no mínimo 6 a 7 jogadores das suas camadas de formação.

6. Em Portugal é mais do que banal atribuir as culpas dos resultados aos árbitros. Acreditas mesmo em perseguições ou erros premeditados ou entendes que tudo isto não passa de desculpas de forma a desviar atenções para os verdadeiros problemas da equipa?
A minha opinião sobre isso é muito simples. Eu acredito, e já foi mais que debatido, que a premeditação é um facto mesmo sendo em pequena escala. Acho que a grande parte dos erros arbitrais existem pela dificuldade de análise devido à velocidade com que os lances acontecem, alguns dos quais nem os telespectadores com várias repetições e de vários ângulos os conseguem desvendar, e pela falta de capacidade da federação de profissionalizar os nossos árbitros.

7. Este ano actuaste, pela primeira vez, contra um dos grandes do futebol português - o Futebol Clube do Porto. Pelo que te pudeste aperceber o FCP está assim tão forte como se diz? Que jogador destacarias desse jogo?
Neste momento o Futebol Clube do Porto é a equipa mais forte e com mais condições para ganhar o campeonato. Tem uma grande estrutura, tanto a nível técnico como a nível mental sendo esta última a mais-valia que André Vilas Boas introduziu neste novo Porto. Não consigo destacar apenas um jogador do Porto visto que todos eles são importantes nas respectivas funções.

8. Muitos consideram a função de lateral moderno uma das mais difíceis de pôr em prática num jogo de futebol. Concordas?
Penso que todas as posições têm a sua dificuldade, devido também à especificidade de cada uma. A minha posição é, de facto, uma posição difícil mas das mais vantajosas do futebol moderno. Se tu conseguires juntar um bom jogo defensivo e um bom jogo ofensivo és sem dúvida alguma um dos jogadores mais importantes da equipa.

9. Num exercício de auto-avaliação, és capaz de enumerar duas das tuas melhores qualidades e dois defeitos, futebolisticamente falando?
Duas das minhas melhores qualidades são o cruzamento, e o passe longo. Dois dos meus maiores defeitos são falta de concentração e por vezes falta de capacidade de me motivar a mim próprio.

10. Qual o jogador que mais admiras e cujo estilo te identificas mais?
O jogador que mais admiro e que mais me identifico, já deixou o futebol, é o Rivaldo.

11. Recentemente, entrevistamos um preparador físico que diz não acreditar em “picos físicos de forma”. Enquanto jogador sentes o mesmo ou, por outro lado, entendes que há uma altura da época em que atinges a plenitude física e depois a tendência é descendente?
Acredito em ambas, isto é, se uma equipa tiver um treinador que trabalha eficazmente a nível mental, essa equipa provavelmente não terá picos de forma visto que terá sempre a equipa motivada sendo a motivação uma parte fundamental da boa forma de um jogador. Se, por outro lado, uma equipa tiver um treinador que não trabalha tão bem a nível mental então essa equipa terá os tais picos de forma, visto que o estar bem fisicamente não chega para se dar o melhor rendimento.

12. Muitos criticam o facto de o futebol seguir cada vez mais um rumo demasiado táctico e pouco espectacular. Como defesa, notas que de facto há uma tendência para privilegiar a rigidez e o rigor defensivo em detrimento da liberdade criativa e ofensiva?
Claro que o futebol moderno é cada vez mais exigente tanto a nível táctico, como físico e como mental. Mas eu acredito que o futebol de hoje permite aos defesas laterais (são os únicos defesas que participam nas manobras ofensivas) participarem mais ofensivamente que no futebol de há 15 ou 20 anos atrás, sendo um contra-senso, falarmos neste rigor táctico permitir a participação de defesas no ataque.

13. Qual o treinador que mais te marcou até hoje e porquê? E o colega de equipa?
O treinador que mais me marcou até hoje foi António Fidalgo, visto que era um treinador que simplificava o futebol ao máximo e com isso tornava as suas equipas bastantes eficazes. Em relação ao colega de equipa, é difícil dizer apenas um que me tenha marcado porque em todos os planteis aparecem sempre aqueles com que te identificas mais, e aqueles com que te identificas menos.

14. Se pudesses fazer um onze com os melhores jogadores que já foram teus colegas de equipa, quem escolherias?
O onze seria: como guarda-redes Sasa, defesas seriam Pedro Coentrão (é dos tais jogadores que não se entende o porquê de andar nas divisões inferiores), Alessandro Turone, Hugo, Luís Tinoco. No meio campo teria Bruno Tiago, Luca Minopoli e Luís Coentrão. Na frente teria Carlitos, Rui André e Cicarelli.

15. Até suportado no facto de a posição que ocupas ser apontada como uma das grandes carências, a Selecção Nacional é um sonho ou uma mera utopia?
Depois de ter conseguido chegar a 1ª liga a selecção passou a ser um sonho como para qualquer outro jogador. De facto a minha posição e de grande carência sendo isso também uma motivação extra.

16. Qual o melhor jogador do campeonato na tua opinião?
Temos grandes jogadores no nosso campeonato mas para mim o melhor é Pablo Aimar. Tem, sem dúvida alguma, uma qualidade muito acima da média. É um jogador de classe mundial.

17. Já conhecias o FutebolStorming? Queres deixar algumas palavras?
Ainda não conhecia o FutebolStorming, mas acho que é uma grande iniciativa vossa que demonstra capacidade de empreendimento. Um grande abraço para todos e boa sorte.

Agradecemos a tua colaboração com o FutebolStorming e, em nome de todos, desejamos-te a maior sorte na tua carreira!

Um grande abraço!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Já começam a fazer parte da “mobília”…


Se vos falasse de um clube que, neste século:
• Participou pela primeira vez na sua história numa competição europeia em 2007;
• Já atingiu uma vez a final da Taça de Portugal, uma vez a meia-final e duas vezes os oitavos de final da competição;
• Tem como classificação média o 10º lugar;
• Na temporada de 2006/2007 foi, a par do Chelsea de José Mourinho, a equipa na Europa que teve mais tempo sem perder dentro de portas;

…certamente poucos de nós nos lembraríamos de referir o Paços de Ferreira.


Embora seja um clube que continue num nível médio do nosso futebol é, a meu ver, um clube que merece uma nota de destaque. Na última década, só uma vez não teve no principal escalão do futebol nacional, apresentando sempre um padrão comum em todas as suas equipas – abnegação, esforço e organização. Essa organização dentro de campo, parece reflectir uma estrutura directiva bem pensada, com papéis correctamente definidos e que, aliando à competência e discrição do seu presidente Fernando Sequeira, tem ainda alguns ex-jogadores que procuram transmitir o espírito pacense (Carlos Carneiro) aos mais novos.


Basta recuarmos alguns anos, para nos apercebermos que daquele clube têm saído alguns nomes interessantes no panorama futebolístico nacional. A aposta nos treinadores nacionais e a estabilidade oferecida no clube, conduziu a que primeiro José Mota e, mais recentemente, Paulo Sérgio despontassem e pudessem ambicionar novos voos. A contratação de Rui Vitória sustenta a tese de que o mercado interno de treinadores continua a ser a grande linha estratégica para este clube.


A equipa deste ano dá claros indícios de manter a matriz dos últimos anos. Observava no último fim-de-semana o jogo com o Vitória de Setúbal e reparava na identidade que a equipa possui – é compacta, aguerrida mas não se desposiciona facilmente. Alia jogadores emprestados jovens, de qualidade e que se querem afirmar (David Simão, Pizzi, Nélson Oliveira e Bura), com alguns brasileiros que lhe conferem um outro toque de qualidade (Leonel Olímpio será o melhor exemplo). O último toque é confinado pelos jogadores mais experientes que carregam o símbolo pacense há mais tempo – F.Anunciação, Paulo Sousa, entre outros.


Percebe-se que, a pouco e pouco, o Paços de Ferreira afirma-se no futebol nacional e, mais importante que isso, começa a ser olhado por jogadores e treinadores como um bom local para se afirmarem, ganharem experiência num clube sem grande pressão e onde a estrutura que está por trás, garante parte do sucesso.


Embora não seja um histórico do nosso futebol, é indiscutível que começa a ser um clube que ameaça fazer parte da “mobília” do futebol principal português nos próximos anos… E como nós precisamos de clubes estáveis como este!