terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Quando o talento não basta


"Não estou surpreendido com o declínio do Ronaldinho. Eu vi que estava a chegar. A sua condição física foi sempre precária, mas ninguém pode duvidar do seu talento"

Ancelotti

"Eu convivi com o Ronaldo nos meus últimos tempos como jogador. Já era um miúdo que gostava muito de trabalhar e que tinha um grande potencial e isso foi sempre dito pelos vários treinadores que o acompanharam. Mais do que o seu talento, há que destacar o grande profissional que Cristiano Ronaldo é."

Paulo Bento



Quando os vemos jogar os nossos olhos brilham, deliciamo-nos com os seus pormenores, os seus passes de génio, a sua clarividência na leitura de jogo, os seus golos de outro mundo. No entanto, há diferenças cruciais.

Já bem nos acostumamos a apreciar os enormes talentos futebolísticos produzidos no Brasil. Mas nada nos preparou para o craque fenomenal que é Ronaldinho. Por entre a sua humilde figura e cara sempre sorridente de garoto brincalhão e ingénuo, esconde-se uma magia inigualável que nos conquistou completamente, principalmente quando vestiu as míticas camisolas do Barcelona e da Selecção Brasileira. Com ele o futebol tinha momentos em que punha de lado o rigor e a frieza e passava a ser o divertido e mágico desporto de rua e de recreio da escola que tanto preencheu a infância de muitos de nós.

Apesar do seu indiscutível talento, Ronaldinho durou pouco. Após a sua saída do Barcelona e agravado pela sua repentina ausência das convocatórias para o escrete, passou a ser uma estrela de segundo plano do futebol mundial. Há ainda jogos em que ele consegue voltar em grande e hipnotizar o público, mas são cada vez mais raros. Agora está em vias de se despedir do futebol europeu e voltar para o seu país de origem. Questionámo-nos sobre o porquê relativamente à rápida queda de Ronaldinho. E as respostas tornam-se obviamente fáceis de se deduzir quando nos deparamos com as suas habituais e despropositadas saídas à noite, sobre a sua falta de entrega nos treinos, sobre as constantes faltas de forma física com que se apresenta e que tanto fazem torcer o nariz dos treinadores. Certamente não terá sido coincidência ter sido “despachado” por Guardiola, Dunga, e agora alvo de críticas de Ancelotti, seu ex-treinador.

Como puro contraste, Cristiano Ronaldo presenteia-nos com uma magia diferente muito assente no físico mas também no seu talento infinito. No entanto, a magia não se mostra dia sim, dia não. Todos os fins-de-semana sabemos que Ronaldo será uma peça-chave da equipa blanca, todos os anos sabemos que Ronaldo estará no topo a disputar o troféu dos melhores marcadores. Muita gente sabe que quando era miúdo, Cristiano Ronaldo era o jogador que punha pesos nas chuteiras que lhe permitia treinar a sua velocidade explosiva. Todos os treinadores sabem que Ronaldo estará sempre disponível na máxima forma possível para defrontar os 90 minutos de cada jogo. No fim, todos sabem que Ronaldo marcará uma geração no futebol, já Ronaldinho podia ter dado muito mais.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Jorge Costa – um adeus ou um até já?

Jorge Costa foi alguém que sempre admirei. Nos relvados representava a mística portista. Carregava com ele o simbolismo máximo de um clube: a garra, a determinação, a obsessão positiva pela vitória, mas, acima de tudo, era o expoente máximo que conseguia transmitir a todos os jovens o que era, afinal, a mística portista.

Fora dos relvados, enquanto pessoa, sempre o achei demasiado coerente, profissional, respeitador e respeitado, que sempre se manteve fiel aos seus princípios. Nos momentos difíceis (episódio com Octávio Machado…) manteve-se sempre coerente e mais tarde foi reconhecido por isso.

Quando abraçou a carreira de treinador, penso que foi ainda mais admirado… Manteve os princípios que apregoou enquanto jogador e pôs as suas equipas a praticarem um futebol agradável, ofensivo, capaz de disputar os três pontos em cada jogo.

Após pouco tempo como treinador, sentiu que o futebol português é demasiado complexo, intriguista, corrupto e com um elevado tráfico de influências. Concordo e aceito perfeitamente o facto de querer abandonar o futebol, afinal, mostra ser coerente…

Contudo, o momento que escolheu para o fazer, deixa muito a desejar.

Compreendia facilmente a decisão de se retirar, mas, retirou-se após duas derrotas humilhantes: pura coincidência? Não acredito…

Acredito sim, que o que quis fazer, foi apenas um pedido refinado de demissão, dando a entender que não se estava a retirar devido aos dois últimos miseráveis resultados. Até porque, após a derrota com o Marítimo, ousou dizer: “tenho a certeza que este resultado não se voltará a repetir!” De facto, teve razão. Não perdeu mais por 5-1, perdeu por 5-0 em Braga…

Assim, acredito que apenas se retirou da Académica e irá dar algum tempo para que as pessoas se esqueçam dos seus últimos resultados. Após esse período, voltará. Ainda bem para quem gosta de futebol.

Alguém como ele faz falta.

São dispensáveis as atitudes cobardes de demissão, assentes numa falsa crítica ao futebol português.

Por tudo isto, acredito que isto foi apenas um até já… E para vocês? Irá o “Bicho” regressar como treinador?

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Plano B!

A existência de planos alternativos às soluções consideradas inicialmente, parece-me um acto elementar de gestão. Mais do que pensar naquilo que achamos ser a primeira e melhor opção, considero que toda e qualquer organização (seja ela de que carácter for) deverá sempre preparar as bases para qualquer inconveniente que se venha a verificar. Também no futebol essa máxima se deveria aplicar.

A extinção das equipas B em Portugal há uns anos atrás foi uma das grandes machadadas às aspirações das equipas portuguesas nesse sentido – o de preparar o futuro de forma sustentada. Confesso que não sei as razões que levaram a esta tomada de posição mas, analisando os dividendos que as equipas poderiam retirar da existência destas equipas secundárias, duvido que não houvesse motivos suficientemente positivos para continuar com elas.

Se olharmos para os principais clubes portugueses, todos nós somos capazes de identificar um conjunto de jogadores que, com potencial, estão a ser claramente subaproveitados por falta de espaço nos respectivos clubes. Não podendo alternar entre equipa B e equipa principal, estes jogadores ficam circunscritos à remota possibilidade de jogar pela equipa principal, perdendo confiança e, certamente qualidades com o passar dos dias. Com a existência de equipas B, um jogador que não seja convocado para a equipa A, pode facilmente manter o ritmo competitivo na equipa B do respectivo clube, mantendo a forma e continuando a valorizar os activos do clube.

Como em todos os casos da vida, tomemos por exemplo o melhor caso – Barcelona. Olha-se para a sua equipa B e vê-se uma equipa na qual os jogadores que não têm tido tanto espaço na equipa principal vão colocando em campo a matriz de jogo que identifica o clube, permitindo uma integração sustentada. Jogadores como Thiago, Nolito ou Fontas já vão aparecendo esporadicamente no plantel principal e isso é fruto deste chamado plano B. Chegam ao plantel principal e apresentam ritmo e facilidade de identificação com os processos de jogo de toda a equipa.

Sei que esta não é uma solução que possa ser aplicada a todos os clubes nacionais. No entanto, importa que aqueles com maiores possibilidades financeiras pensem nisso e nas vantagens que daí poderão retirar. Ganham os clubes, os jogadores e as selecções nacionais das camadas jovens que têm os seus seleccionados com ritmo competitivo.

Como diria um locutor de rádio: “Vale a pena pensar nisso”.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Presentes de Natal...



Nesta época natalícia, todas as pessoas andam atarefadas com o que comprar para oferecer aos outros. Pois bem, mesmo no mundo futebolístico há presentes que as pessoas gostaria de oferecer ao seu próprio clube e aos outros. Comecemos, então, por analisar quais poderiam ser estes presentes.

No caso do Porto, os seus adeptos desejam um resto de época igual ao que fizeram até agora. Um presente que até parece simples, mas que não o é. Isto porque todos os outros desejam que o Porto receba muitos presentes envenenados de modo a puder perder a liderança do campeonato. Ainda sobre este clube, há quem queira oferecer comprimidos ao seu treinador, pela prepotência arrogante que muitas vezes apresenta.

Quanto ao Benfica, a prenda mais desejada é uma águia. Sim, até pode ser a Vitória. Mas para isso, o seu tratador tem de nos oferecer um livro para que possa explicar bem toda esta história. Futebolisticamente falando, talvez um ou outro jogador no sapatinho (regresso de Urreta era um presente barato) para que possa tentar recuperar pontos ao Porto e fazer o brilharete na Liga Europa que não conseguiu fazer na Champions.

E para o Sporting? Bem, o Sporting precisa de um Pai Natal particular. Vai muita coisa mal no reino do Leão, começando nos jogadores, treinadores e direcção. Um kit de limpeza geral na próxima época poderia não ser má escolha, para ver se o Sporting consegue manter o título de 3º grande que ultimamente tem estado em risco.

A todos os outros clubes desejo muitos e bons presentes. Porque precisamos de um campeonato forte para nas competições europeias nos possamos bater de igual para igual com qualquer outro país.

E o leitor, que presente quer para o seu clube?

sábado, 18 de dezembro de 2010

Pensar jogo a jogo


Na vida, uma das principais qualidades para se ser um vencedor consiste na rápida adaptação à mudança. No futebol, este atributo é cada vez mais fundamental. Assim os verdadeiros vencedores são aqueles que conseguem obter sucessos de uma forma constante, lutando contra adversidades que impõe desafios diferentes todos os dias e que nos exigem uma rápida adaptação da nossa parte.

Perante o sucesso que a campanha do Porto de Villas-Boas tem tido torna-se inevitável estabelecer algumas comparações com as práticas de um dos seus mestres do treino, José Mourinho. O que há de comum nas suas metodologias são a ênfase que dão ao estudo do adversário. Todos os jogos representam um desafio único e diferente e cujas características e particularidades dão lugar a um estudo minucioso com o objectivo de escolher uma estratégia que mais se adapte as circunstâncias. Tudo é analisado ao detalhe, desde as movimentações mais usuais dos jogadores adversários, as suas fraquezas, os seus “vícios”, as decisões mais habituais do treinador oponente, até às condições do relvado e previsões meteorológicas para o dia de jogo. O objectivo é tornar com que tudo seja o mais previsível possível e que o factor sorte seja reduzido ao máximo. Todo este planeamento garante uma adaptação a um cenário diferente com circunstâncias diferentes.

Um pormenor que às vezes me cria confusão em certos treinadores é quando a sua equipa está a jogar visivelmente mal e que, mesmo vendo-se a perder, chega o intervalo e nada muda relativamente ao 11 que joga nem à estratégia delineada. Nalgumas situações as substituições chegam-se mesmo a fazer só para além dos 70 ou 80 minutos de jogo acabando muitas vezes por não resolver nada por serem tardias e fora de tempo. Para mim, estes cenários revelam uma fraca adaptação de uma equipa perante as circunstâncias. Já noutras equipas, muitas substituições são realizadas ao intervalo ou logo após um acontecimento marcante no jogo tais como um golo sofrido ou um golo marcado. A questão chave aqui é a velocidade com que a estratégia se adapta com o desenvolver dos acontecimentos.

A adaptação também é uma qualidade importante no que toca ao rendimento de um jogador. Perante uma marcação mais ou menos cerrada do adversário, um Cristiano Ronaldo ou um Messi por exemplo terá que adaptar o seu estilo de forma a tornar-se mais eficaz nas suas funções. Já os defesas, por exemplo, terão que se movimentar de forma diferente dependendo da velocidade e formas de atacar da equipa contrária. Para não falar das diferentes condições de relvado que podem alterar por completo o estilo de jogo que um jogador terá que realizar.

A verdade é que os verdadeiros campeões nunca se acomodam e para ter sucesso hoje em dia no futebol, a mudança e adaptação terão que ser conceitos importantíssimos a ter em conta.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Profissionais?

Sim, a foto não é inocente: para mim, este jogador (?) simboliza tudo aquilo que um profissional não deve ser.

Os agentes desportivos usam e abusam da sua notoriedade, aproveitam-se dela para exporem tudo o que querem, para se mostrarem, para se exibirem; recebem ordenados astronómicos, são tratados como príncipes, vivem no seu mundo de sonho. E o reverso da medalha, qual é?

Sim, seria óptimo que a medalha apenas tivesse uma face, o que implicava que o mundo do estrelato apenas tivesse benefícios, gratificações e luxos, sem que isso implicasse responsabilidades, deveres e compromissos.

Guti simboliza todos aqueles que representam o egoísmo, o egocentrismo e se esquecem que a maior responsabilidade que possuem é social. Afinal, são seguidos, admirados e idolatrados por jovens que, inocentemente, ousam dizer: “um dia quero ser como ele”.

Guti enquanto pessoa, enquanto exemplo a seguir, representa o degredo: ser apanhado com taxa de alcoolemia acima de 2, recusar-se a fazer o teste, estar constantemente a ter comportamentos incorrectos, envolver-se periodicamente em conflitos, para além de que, cada vez que ousa abrir a boca, diz frases como “se tenho dinheiro, tenho que aproveitar. Se não for agora, quando é que vou beber álcool e ir para a discoteca? Quando tiver 40 anos?”

Pois bem, que seja livre de pensar assim, mas então que não use o protagonismo e o mediatismo em prol de algo que não é capaz de defender nem representar, por muito que queira aparecer em acções como ir aos hospitais e a jardins-de-infância.

Talvez chegue o dia em que existam coimas para as irresponsabilidades sociais e para a falta de profissionalismo… Que essas coimas comecem pelo julgamento público de seres absolutamente deprimentes em que Guti representa o expoente máximo.

Não basta ser profissional dentro das quatro linhas, durante 90 minutos. É preciso mais, muito mais…

Acredito que para Guti, profissionalismo e responsabilidade, sejam duas palavras desconhecidas. Será sempre uma pessoa demasiado pequena para poder comportar-se como um grande.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Em queda livre


O Sporting constitui-se, neste momento, um dos casos mais difíceis de entender no panorama futebolístico nacional. Escrevo sobre o clube não como reacção a (mais) um desaire do clube, mas sim em resposta ao que, ao longo dos últimos anos, temos vindo a assistir. A equipa de futebol arrasta-se em campo, a formação já não parece ser a solução para todos os problemas e o clube chega a Janeiro já a pensar na época seguinte porque já esgotou todos os créditos até aí.

Comecemos por esta pré-época e analisemos a transferência mais mediática dos últimos anos do futebol nacional – João Moutinho. Independentemente das culpas que o próprio jogador possa ter em todo o processo, considero completamente descabido como é que um clube que pertence à classe dos “grandes” consegue vender o seu melhor jogador, capitão e símbolo do clube ao maior rival. Normalmente, este tipo de vendas (ainda que a preços inferiores) ocorre em clubes de 2ª linha do futebol português que, por imperativos financeiros, se vêem obrigados a vender os seus melhores jogadores aos três grandes.

A má planificação do plantel não termina no capítulo das vendas. O suspiro que dura há cerca 3 meses por um “pinheiro”, a falta de consistência táctica que a equipa apresenta e as contratações que parecem estar desfasadas daquilo que o treinador pretende, são igualmente equações à espera de explicação.

Tudo isto acaba por redundar numa irregularidade exibicional que chega a ser confrangedora. Os adeptos deixam de estar com a equipa de forma tão intensa, as claques acusam a direcção de opressão à liberdade de expressão e as personalidades sportinguistas trocam acusações.

Fosse este um problema unicamente desta época e tudo poderia ser facilmente resolvido. No entanto, mesmo o mais indefectível sportinguista, deverá concordar que a falta de sucesso desportivo que o clube apresenta, se deve muito mais a um problema estrutural do que a uma mera conjuntura. Os dirigentes vão mudando mas a política do clube parece deteriorar-se de ano para ano, encurtando igualmente os fundos existentes para investir o que provoca o aumento do fosso para Benfica e sobretudo para o FCPorto.

A meu ver, só uma mudança séria nos fundamentos que norteiam toda a estrutura do clube, poderá alterar o caminho que agora parece ser o mais provável – o de distanciamento para os outros dois grandes ao longo dos próximos anos.

Esperemos que o Sporting “não dê um passo em frente neste abismo” que se encontra e que passemos a ver um leão a rugir bem alto e a mostrar que a luta se faz a três e não apenas a dois clubes.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A crise aqui também


Como todos sabemos, atravessamos actualmente uma das maiores crises económicas que algumas vez se registou no nosso planeta. Afecta vários espaços geográficos, várias economias, vários sectores. E o sector desportivo, particularizado neste caso no mundo do futebol não é excepção. A questão que aqui levanto hoje é então a seguinte: Deveria haver algum organismo que limitasse os tectos salariais dos jogadores e de transferências entre os clubes?

Vejamos então. O futebol é vivido no momento. Ou quase. Há presidentes que nem um mandato cumprem e tentam tudo para entrar na história. Não se preocupam com quem virá depois deles. Endividam (ou endividaram) os clubes, veio a crise financeira e com ela o decréscimo de patrocínios. As despesas cresciam, as receitas não... Situação que para muitos clubes se veio a tornar insustentável. Esta situação começou por baixo, em clubes de menor escala. Mas não poderá ela atingir clubes de maior dimensão (dimensão mundial e europeia) levando à destruição de clubes com história?

Sou da opinião que deveria existir um organismo capaz de analisar as contas dos clubes e evitar situações de potencial risco para os mesmos. Limitar salários e valor de transferências poderia ser uma forma de ter mais dinheiro para investir noutras áreas do futebol (percentagem mínima reinvestida na formação) e noutras modalidades. Aumentando a percentagem a receber pelo clube formador de jogador (sobraria dinheiro para isso) aumentaria a aposta de todos os clubes nos seus "miudos" e levaria à diminuição da rotatividade de jogadores, aumentando porventura o tão falado amor à camisola.

Tudo isto não passa apenas de algumas teorias que poderiam resultar na prática. A única certeza que temos é que o mundo do futebol é também (e sobretudo) um mundo económico. E como tal poderá não escapar ileso à crise...

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O Futebol segundo Wenger


A Premier League representa uma filosofia de viver o futebol. Paralelamente a muitos outros aspectos da sociedade inglesa, os ingleses apresentam um campeonato muito próprio e distinguem-se simplesmente por serem diferentes na forma como abordam o jogo, a sua gestão e a sua envolvência.

Em Inglaterra não há treinadores mas sim “managers”, o que significa que por eles passam não só a orientação dos treinos e a preparação dos jogos em si mas também tem uma voz importante nas decisões de alto nível no que toca a políticas de contratações e de formação, remodelações das infra-estruturas de treino, definição da equipa técnica, etc.

Assim em volta da figura de um “manager” muito facilmente se poderá formar uma certa aura representativa de uma filosofia de jogo que se demarca das restantes e que perduram no tempo independentemente dos sucessos e insucessos. E é este pormenor que também ajuda o futebol inglês a revelar-se fascinante.

Um exemplo muito claro é o Arsenal de Arsène Wenger. Foi em 1996 que o manager francês assumiu a liderança dos gunners e dali nunca mais saiu. Com base numa mentalidade fixa e determinada, lançou uma estrutura de base sólida e dali construiu um projecto coerente que, com todos os seus defeitos, se manteve no tempo e atingiu os seus sucessos. O Arsenal de Wenger não gosta de contratar estrelas já feitas, antes prefere moldá-las desde jovens. O estilo de jogo arsenalista sempre se demarcou pela sua grande velocidade aliada à técnica, passes rápidos, grande mobilidade e uma mentalidade ofensiva ininterrupta. As vantagens mostram-se claras aos nossos olhos quando vemos um futebol vistoso, eficaz, e cuja máquina quando bem oleada chega a assustar qualquer adversário. No entanto as desvantagens também se tornam evidentes quando surgem algumas derrotas inexplicáveis muito devidas a alguma falta de rigor defensivo e escassez de espírito resultadista.

No entanto, o que gostaria de salientar, é que o império de Wenger nunca se desmoronou, continua vivo. Por mais anos que passem, mesmo longe dos títulos, existe uma veneração, um respeito e uma paciência perante um projecto que se vai desenvolvendo com os seus altos e baixos. Os adeptos e todo o resto da comunidade gunner sabem esperar e também sabem que o futebol muitas vezes faz-se por ciclos, em que após o sucesso há tempos de acalmia e de um baixar de hostes. Entretanto, desfrutam do seu futebol, da sua filosofia, do seu modo de vida, produzindo e ajudando a formar inúmeras estrelas que singram no futebol mundial. Um verdadeiro exemplo para determinadas culturas futebolísticas onde a chicotada psicológica é sempre a solução número um.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Futebol: que papel no nosso país?

Somos um país pequeno, num cantinho da Europa… Os estrangeiros conhecem-nos porque sabem que ficamos ao lado da Espanha, outros pensam que somos uma província espanhola…
Contudo, se porventura ousarmos pronunciar além-fronteira o nome “Eusébio”, “Cristiano Ronaldo”, “Mourinho”, ouvimos inevitavelmente o nome Portugal!

Podem-nos chamar atrasados, incultos, se calhar parolos, mas contra factos não há argumentos: temos em Portugal alguma área onde tenhamos tamanho reconhecimento e sucesso? Temos alguma área onde sejamos tão respeitados como no futebol?

Sim, chamem-me o que quiserem, mas gostava de conhecer alguém que chegue ao estrangeiro e se orgulhe de falar do nosso nível cultural, da nossa taxa de desemprego, do nosso défice, do (não) cumprimento das medidas estabelecidas pela UE, da taxa de escolaridade, da situação financeira da maioria das nossas instituições ou até da (miserável) importância e influência que possuímos nas relações que estabelecemos com os outros países.

No futebol não é assim: somos respeitados, normalmente andamos nos patamares mais altos a nível mundial, temos protagonistas que são reconhecidos e invejados mundialmente pelo seu talento e sucesso e devemos estar gratos a esta modalidade pois é talvez o principal veículo de exposição mediática no nome “Portugal”.

Assim, importa reflectir sobre duas coisas: não querendo roçar o nacionalismo bacoco, penso que é altura de parar e deixar de criticar todos os portugueses que atingem o sucesso; ao mesmo tempo que penso que o futebol deve ser respeitado e admirado pela importância que possui no nosso País e na imagem que possuímos lá fora.

Por muito que os senhores investigadores, os aculturados, os Professores Doutores, os iluminados, os craques da inteligência queiram dizer que o futebol é para incultos e que não dá de comer a ninguém, que sejam capaz de me mostrar outra área onde o sucesso seja igual ao que já fomos capazes de atingir no futebol.

Para além disso, podemos ainda falar do PIB da felicidade, para a qual certamente o nosso futebol muito contribui, se bem que neste momento o PIB da felicidade dos benfiquistas deva ser parecido com o PIB da Irlanda, mas nada que uma vitória na próxima jornada sobre o todo-poderoso Rio Ave não inverta, e mostre que afinal o Benfica tem equipa para ganhar a Liga Europa.

Uma crença que apenas permanecerá até o Benfica jogar outra vez na Europa…

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Culpar é sempre mais fácil!

Vivemos num país onde elogiar o colega do lado é cada vez mais difícil. A crise não se cinge só à esfera financeira e a crise de valores parece alastrar a olhos vistos. A crítica é feroz e aparece à primeira oportunidade. Não se valoriza o que de bom é feito, procurando-se sim detectar o primeiro erro para, logo aí, atacar para deixar o adversário (ou colega) KO!

Em traços gerais, assim se caracteriza o estado da nação!

Tal como uma vez referi, o futebol é uma verdadeira montanha russa de emoções, sentimentos e opiniões. Tão depressa alguém está nos píncaros como, logo de seguida, já se está na lama. Os treinadores são, provavelmente, o rosto mais fácil de culpar e, não raras vezes, o menos valorizado nos sucessos. Ao mínimo deslize é ele o primeiro a cair, tentando encobrir outras deficiências estruturais bem mais profundas.

Reparemos no caso mais paradigmático – José Mourinho. Recuem alguns anos no tempo e lembrem-se dos adjectivos que, todos os dias, lhe eram atirados à cara aquando da sua “estadia” em Portugal. (Pausa)

Já está? Pois bem! Toldados pelo fanatismo ou inveja bacoca, todos os adeptos dos outros clubes não conseguiram nessa altura, reconhecer as capacidades inegáveis de alguém que já aí demonstrava estar acima de todos os outros. Teve que sair de Portugal para, no minuto seguinte, começar a ser aclamado pela imprensa portuguesa. Faz sentido? Não!

O mesmo parece estar a passar com dois treinadores a quem reconheço enormes competências – Jorge Jesus e André Villas-Boas! O primeiro porque se fala mais dos seus pontapés no português do que na sua capacidade de colocar as equipas por onde passa a jogar um futebol muito atractivo e consistente. O segundo porque por viver o jogo intensamente e por estar a ter um trajecto, até ao momento, imaculado, não parece estar a cair no goto de alguns.

Todos nós sabemos que, tanto um como outro, têm capacidade para vingar no estrangeiro e, nessa altura, que ninguém duvide que terão sucesso e serão elogiados. No futebol português parece não haver espaço para este tipo de treinadores bons porque se torna difícil elogiar o adversário e reconhecer nele competências com as quais poderemos tirar alguma coisa de benéfico.

Para terminar, deixo uma frase que foi proferida por um treinador de futebol que treinou um dos grandes:

“Temos que jogar à Porto!”

Foi Camacho e acabou despedido…

sábado, 4 de dezembro de 2010

Assim podemos ir lá...


Desde o tempo em que treinava o Sporting, sempre tive uma certa admiração por Paulo Bento. É certo que nunca foi um treinador que se afirmasse plenamente com vitórias em competições ou que se apresentasse cá fora com um carisma marcante. No entanto, apesar de não ganhar competições, Paulo Bento fez bons resultados no Sporting (vários segundos lugar), deu sempre a cara na hora de defender os seus jogadores (tendo o tempo sempre acabado por lhe dar razão) e lançou alguns dos jogadores que actualmente actuam na nossa selecção (casos de Nani e Miguel Veloso). Continuo a achar que se o Sporting não esteve bem no seu tempo, com a sua saída conseguiu tornar-se ainda pior. Mas isto não interessa falar agora.

Li uma entrevista no nosso seleccionador Paulo Bento em que diz que somos um povo do 8 e do 80. Ainda há pouco tempo não iamos ao Europeu como agora já somos candidatos ao título. Isto caros leitores, não poderia caracterizar melhor a forma como a nossa população vê o futebol e, infelizmente, muitos aspectos da nossa vida.

Era urgente operar uma mudança na mentalidade da nossa selecção. Sim, porque os jogadores não poderiam mudar muito dos utilizados por Carlos Queirós. Paulo Bento começou essa mudança e tem vindo a consolida-la. Não está já concluída e não somos novamente uma equipa de geração de ouro. É por isso que, tal como Andre Villas-Boas prepara os adeptos do FCPorto para a primeira derrota, também Paulo Bento irá algum dia perder um jogo. E o entusiasmo que novamente ganhamos com a nossa selecção não se pode perder aí.

Os meus parbéns ao nosso seleccionador, pois mostra saber preparar uma equipa no terreno e os adeptos à volta dela. Coisa que já não se via desde o saudoso Luís Filipe Scolari, mas que agora pode ver um substituto que poderá estar à sua altura...

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Já está ganho!


Será amanhã, quinta-feira, que será anunciada a decisão de quem serão os organizadores do Campeonato do Mundo de Futebol de 2018. A nossa candidatura conjunta com Espanha apresenta uma concorrência muito forte que provém das candidaturas inglesa, russa e da parceria holandesa e belga.

Não é fácil prever um vencedor, e como a comunicação social já tratou bem de esclarecer ao longo destes últimos dias, a candidatura eleita não será somente baseada na qualidade e viabilidade do projecto mas também com base na sua força no jogo de influências e capacidade de mexer com os instintos lucrativos da FIFA.

Contudo, independentemente do sucesso da nossa proposta, um ponto muito positivo poderemos retirar de tudo isto, e tal será a vontade mútua de haver uma cooperação ibérica. O nosso país poderá estar a ultrapassar tempos difíceis e enfrentar cenários bem pessimistas, mas a verdade é que mesmo ao nosso lado temos um vizinho poderoso. É um facto que a Espanha, acompanhando a tendência dos restantes países europeus, também não atravessa tempos fáceis, mas no entanto continua a apresentar uma economia poderosa e uma população altamente instruída e qualificada para além de desenvolvida em várias vertentes.

Poderemos dizer que os espanhóis apresentam uma das culturas desportivas mais fortes do mundo. São e já foram campeões numa variedade enorme de modalidades para além do futebol, tais como o basquetebol, futsal, hóquei em patins, ténis, ciclismo, desportos motorizados, etc. Todo este enorme sucesso certamente será devido ao enorme valor que a sociedade espanhola dá ao desporto como um pilar fundamental na sociedade e tudo isso é reflectido não só nos sucessos desportivos como também na qualidade da sua formação, das suas infra-estruturas e também nos grandes investimentos que são realizados.

Temos o privilégio de ter um país irmão que é um exemplo de elite a nível desportivo. Chegou a hora de ver, estudar, aprender e por fim absorver o valioso know-how que se encontra mesmo debaixo dos nossos olhos. Sejamos perspicazes, deixemo-nos de preconceitos patrióticos e comecemos a criar uma verdadeira parceria não só assente na organização de um campeonato do mundo mas em tudo o que é desporto e muito mais. Se foi mesmo com base nesta mentalidade que juntamos forças então nem precisamos de saber o resultado amanhã. Já ganhámos!