quarta-feira, 30 de março de 2011

O futebol como catalisador social

A magia do futebol reside nos golos, nos passes, nas desmarcações, nas discussões, nos debates, na polémica.

Reside também na possibilidade de alterar uma trajectória da vida.

Alguém nascido num meio pobre, com graves dificuldades financeiras, sem estabilidade familiar, sem uma referência, com sonhos, mas com muitos caminhos tumultuosos por onde é fácil ir; alguém a quem sempre foi difícil perceber o que quer dizer a palavra “pai”; alguém cujo meio envolvente nunca foi o mais propício a uma educação estável; alguém que, teoricamente, e por mera equação matemática, estaria condenado a um fim deplorável, pode ser ajudado pelo futebol? Pode!

Mesmo que para isso seja necessária uma experiência negativa além fronteiras; mesmo que para isso seja necessário ser capa dos jornais pelas piores razões; mesmo que isso envolva ser considerado uma das grandes promessas falhadas do futebol português; mesmo que durante muito tempo o apelido “eterno fracasso” pudesse ser aplicado.

Com talento nos pés, e equilíbrio na cabeça, é possível inverter o rumo de uma vida.

Toda esta teoria faz sentido.

Contudo, percebemos que é real quando falamos de Fábio Coentrão.

Que Coentrão seja apenas o expoente máximo daqueles que encontraram no futebol uma forma de escaparem a todas as adversidades com que se depararam ao longo da vida.

Coentrão teve sorte? Talvez. Mas a sorte dá muito trabalho. E ele foi capaz de fazer esse trabalho transformando a sua indisciplina em irreverência; a sua impetuosidade em agressividade; a sua revolta em garra; o seu temperamento em feeling; o seu querer e a sua vontade em sucesso.

Sim, teve as pessoas certas ao lado dele, teve a sorte do momento, teve oportunidades. Mas, não será justo ter isto tudo depois da infância/adolescência penosa por que passou?

Acredito que sim e penso que mais importante que os euros que aufere, é o facto de ter encontrado a estabilidade e o rumo que a sua vida necessita.

Afinal, aquilo que todos procuramos!

PS: Obrigado Artur Agostinho! Porque se enquadra, vou usar uma citação de Artur Agostinho para me referir a Coentrão: “a sorte bate à porta de todos, pelo menos uma vez na vida: é preciso é que esteja alguém em casa quando ela bate!”. O Coentrão estava.

segunda-feira, 28 de março de 2011

James e Gaitán: As semelhanças

Muitas vezes apregoado como um campeonato de segunda, a liga portuguesa tem revelado um conjunto de jogadores de primeira que, posteriormente, se destacam em ligas mais competitivas. Ainda que continue a servir de trampolim para campeonatos mais interessantes do ponto de vista dos jogadores, o que é certo é que temos tido o privilégio de observar vários jogadores brilhantes nos palcos portugueses.

Gaitán e James são dois jogadores que se enquadram perfeitamente neste contexto e que o futuro tratará de confirmar esta visão que, certamente, é partilhada pela maioria. Com estilos naturalmente distintos, ambos têm sido utilizados em posições que considero não serem as mais adequadas para cada um deles – extremo esquerdo.

Embora possuam uma velocidade assinalável, a maior qualidade de cada um dos jogadores reside, fundamentalmente, em dois aspectos: drible curto e capacidade de decisão ao nível do passe. Assim sendo, jogadores com tamanha qualidade técnica não poderão, a meu ver, estar confinados a uma posição tão…lateral.

Apesar de estarem a apresentar níveis de rendimento elevados (Gaitán num patamar claramente superior), não me admiraria que este rendimento subisse ainda mais com uma alteração de funções em campo.

Quando falo em mudanças, não falo na deslocação definitiva destes jogadores para a posição 10. Acho sim, que esta deveria passar a ser a posição que ocupe a maioria do tempo de jogo de ambos, não invalidando as naturais trocas de posição com os extremos.

O potencial enorme destes jogadores associado à juventude de ambos traduz igualmente a qualidade do trabalho que tem sido efectuado por FCPorto e Benfica no domínio de prospecção de jogadores.

Sejam ou não portugueses, certamente que nenhum de nós se importa de continuar a ser presenteado pela magia que jogadores deste calibre têm capacidade para oferecer. E quando assim é, não há clubismos capazes de tapar tamanha evidência…

sábado, 26 de março de 2011

Politiquice no futebol


Hoje é um dia importante para o mundo leonino. O novo rumo verde e branco estará prestes a ser decidido pelos sócios do Sporting, tendo como possíveis escolhas no boletim de voto as cinco listas que propuseram a sua candidatura.

Os últimos dias que se têm vivido na comunidade leonina mostraram toda a sua faceta simultaneamente cómica e trágica. Talvez um reflexo em pequena escala da forma como a política é feita em Portugal. Imensas promessas de mundos e fundos foram feitas em campanha, desde escolhas de treinadores estrangeiros dados como certos, passando por fontes de financiamento ainda um bocado enevoados e suspeitos, acabando em listas inteiras de jogadores cujos contactos e vontades de acordo estão supostamente no bom caminho.

O discurso hilariante de Futre que se têm propagado e difundido de forma viral é certamente um desembocar do ridículo e da incerteza que as alternativas que os sócios leoninos tem ao seu dispor apresentam. Nota-se a existência de uma aposta generalizada na contratação de um técnico estrangeiro reputado, falando-se em Zico, Scolari, Rijkaard, Van basten. Tudo técnicos impregnados de ideiais futebolísticos um tanto desfasados da realidade que é o campeonato português. E quando se falam nos planos para reabilitar a situação económica do clube, todas as promessas se perdem num nevoeiro de fundos de investimento de origem duvidosa e apostas no mercado asiático capazes de criar lucros fantasiosamente elevados.

A minha aposta é de que independentemente de qual lista seja anunciada como vencedora esta madrugada, para o ano estaremos cá provavelmente mais uma vez a discutir o estado crítico de um clube desnorteado muito à imagem da situação do país a que pertence.

quarta-feira, 23 de março de 2011

O futebol português, as pedras e os comunicados…


Falemos do futebol português: pedras, pontes, vidros partidos, feridos, etc.…

Situações destas são lamentáveis para o futebol e são o reflexo do país em que vivemos.

Infelizmente, toda esta crispação e este clima foram criados única e exclusivamente por dois senhores: Pinto da Costa e LFV.

Estão apenas a colher aquilo que semearam.

Alguém acredita que isto irá parar? Eu não. Não acredito pelo simples facto de num futuro próximo se disputarem dois (talvez três…) jogos entre Benfica e Porto.

Nesta história não há inocentes. Os culpados são os dois, em proporções iguais.

Quero reiterar que lamento e condeno vivamente toda e qualquer agressão e/ou tentativa de ajuste de contas.

Contudo, sou demasiado ingénuo e há algo que não entendo: alguém leu algum comunicado do Vitória de Guimarães, do Braga, do Paços de Ferreira, do Sporting, do Rio Ave, ou de outro clube qualquer, a lamentar as agressões ao carro onde seguia Luís Filipe Vieira?

Eu não. Apenas li um comunicado do Futebol Clube do Porto. Porquê o Porto? Coincidência ou peso na consciência?

Confesso que me fez confusão ler o comunicado do FCP a lamentar as agressões e a afirmar que nada tem a ver com a situação.

Porque sentiu o FCP necessidade de se justificar perante uma situação em que (alegadamente) nada tem a ver?

segunda-feira, 21 de março de 2011

Quando a qualidade atrapalha


Tenho a certeza que todos nós partilhamos da ideia de que quanto mais qualidade tiver um plantel mais competitivo será. Jogadores de topo no plantel conduzem a mais soluções e, à partida, a um futebol mais atractivo e ganhador. Parece a lógica da batata dirão uns! No entanto, parece-me haver um clube que está a procurar contrariar esta regra.

Este fim-de-semana tive a oportunidade de assistir ao jogo do Chelsea e fiquei (mais uma vez) com a sensação de que o treinador italiano está um pouco perdido no meio de tanta vedeta. A meu ver, o clube apresenta o melhor plantel de toda a Europa e com jogadores de topo em todos os sectores quer no onze quer como opções secundárias. Não bastando o plantel de início de época, David Luiz e Fernando Torres vieram acrescentar ainda mais qualidade a uma equipa já de si recheada de estrelas.

É precisamente sobre este último reforço (cuja qualidade é inatacável!) que julgo residir o actual problema de Carlo Ancelotti. Actualmente a equipa conta com três extraordinários avançados (Drogba, Anelka e Torres) mas com características completamente distintas. Ao querer manter o mesmo modelo de jogo (4-3-3 contra Man.City) não pode simplesmente mudar de peça mais avançada e manter a mesma forma de jogar porque isso será impossível.


Torres jogou de início neste fim-de-semana relegando para o banco os dois primeiros. O que se verificou foi um completo alheamento do jogador em todo o jogo simplesmente porque não se enquadra naquela forma de jogar da equipa.


Este parece-me ser um dos exemplos claros da confusão que qualquer treinador que pegue no clube enfrentará (excepção a JM?!). A multiplicidade de soluções e alternativas possíveis é tanta que parece ser difícil definir um modelo de jogo claro que possa acompanhar o clube ao longo de uma época inteira e que, simultaneamente, se adapte às características de todos os jogadores.

A qualidade é imensa e está à vista. Haverá uma excepção à regra?

PS: Uma vénia a um senhor chamado Nuno Gomes. Demonstra um profissionalismo a toda a prova e uma qualidade e eficácia que permanecem intocáveis. Não seria bom utilizá-lo mais vezes Jorge Jesus?

sábado, 19 de março de 2011

Um futebol mais inteligente


No futebol são valorizadas diversas aptidões de um jogador quer sejam de cariz técnico ou então de cariz mais físico. Podemos observar uma variedade enorme de características de jogadores cujo aproveitamento pode ser melhor ou pior consoante o seu papel e o seu “encaixar” nas estratégias delineadas pelos treinadores numa época.

No entanto, um pormenor importantíssimo que gostaria de lançar em debate é a conclusão de que o futebol está num patamar de evolução em que nunca dependeu tão pouco das qualidades e aptidões físicas dos jogadores.

Podemos ver uma equipa como o Barcelona a jogar como exemplo. A melhor equipa do mundo (opinião pessoal claro está) baseia a quase totalidade do seu jogo na qualidade técnica dos seus jogadores. Os principais protagonistas tais como Messi, Xavi, Iniesta e Villa, não são reconhecidos propriamente pelo seu poderio físico e velocidades estonteantes, mas mais pela sua inteligência de jogo na desmarcação e posicionamento, pela sua técnica de drible, passe e finalização. Toda a equipa do Barcelona é talvez um exemplo óptimo da supremacia cada vez maior do cérebro de uma equipa em detrimento do seu músculo.

Esta análise leva também inevitavelmente a comparações do valor futebolístico de carácter mais individual. Cristiano Ronaldo é um verdadeiro atleta de físico impressionante, e muito se baseia nesta qualidade para o desenvolver do seu jogo. Apresenta de facto uma técnica completamente fora do comum, no entanto nota-se que aposta muito na sua força física e capacidade de explosão para ultrapassar os adversários e criar oportunidades de golo. Já em Messi, apesar de ser dotado de uma boa velocidade, é um jogador que se apoia mais na sua habilidade e clarividência táctica, mostrando pormenores de um talento técnico inato dificilmente superado, tendo-se como exemplo mais recente o seu golo soberbo que marcou contra o Arsenal.

E agora pergunto qual destes dois jogadores será de qualidade mais duradoura e intacta? Um Cristiano Ronaldo que aposta em muito na sua superioridade física, mas físico esse que está prestes a entrar no pico da sua performance e a partir daí será sempre a descer ou um Messi cuja inteligência em campo, incrível leitura de jogo e capacidade de passe e de drible soberbos dificilmente se apagarão do código genético desta pequena divindade no futebol? A resposta só Deus saberá mostrar.

quarta-feira, 16 de março de 2011

“ANIMO ABIDAL!”

Hoje assisti durante 90 minutos ao Real Madrid – Lyon.

No sofá, em frente à TV, acreditei que o mundo se resumia ao passe do Di Maria ou ao golo de Benzema.


Perguntei-me como é possível Pepe fazer um jogo horrível (por momentos pensei que era o Sidnei que estava a jogar…).


Discuti com quem estava ao meu lado sobre a performance do Ronaldo. Debatemos, fizemos do jogo de futebol um momento importante.


Chegamos unanimemente à conclusão que só Mourinho poderia acabar com o fantasma francês.

Mas eis que, sem que nada o fizesse prever, vejo os jogadores do Real Madrid a despirem as camisolas de jogo, tendo todos eles uma mensagem escrita.
“ANIMO ABIDAL!”

O público levanta-se e aplaude. Alguns choram.


Eu não chorei mas, naquele momento, percebi que esta é a magia do futebol: durante 90 minutos, permite que façamos algo que nos permita esquecer a realidade e não lembrar que existem coisas más e duras com que temos que lidar diariamente.


Nesse momento, deixei de debater com quem estava ao meu lado porque a magia do momento que acabamos de assistir passou a ser objectiva demais para que fosse discutida!


Que esta magia seja sempre encanto e nunca alheamento da realidade. Que seja sempre vivida com realismo, pés bem assentes no chão e um controlo emocional muito grande.


Porque quando o alheamento é grande demais, o tombo é maior.


Mas porque faz parte de um grupo de campeões, onde encontrará a força necessária para voltar a um patamar de excelência, eu acredito e por isso reitero a mensagem dos merengues:


“ANIMO ABIDAL!”

terça-feira, 15 de março de 2011

Desgaste físico: inevitável?

Num dia em que o FCPorto deu um passo significativo para a conquista do ceptro de campeão nacional que o ano passado foi (merecidamente) conquistado pelo Benfica, irei centrar este post sobre o desgaste físico dos jogadores que tem sido particularmente relevante no clube encarnado.

Comecemos pelos factos:

- O FCPorto apresenta um modelo de jogo que privilegia a posse de bola com passes curtos e de forma relativamente pausada; a sua intensidade do jogo varia conforme os momentos do jogo e de acordo com as necessidades que o próprio jogo apresenta;


- O Benfica aposta numa intensidade de jogo sempre elevada, privilegiando sobretudo os corredores com os seus laterais e médios-ala a apresentarem-se sempre a rotações elevadíssimas; por norma, procura dilatar o marcador mesmo que o jogo e o calendário possa aconselhar um abrandamento;


A estes factos junto uma outra consideração que me parece ser a mais relevante de todas – as diferenças que Jorge Jesus e André Villas-Boas apresentam ao nível do conceito “gestão do plantel”.

Desde cedo, AVB foi mexendo de forma cirúrgica nos mais diversos sectores do terreno. Ora jogava Fucile, ora jogava Sapunaru. Maicon e Otamendi foram rodando com frequência. James alternava com Varela e Guarín com Fernando. Ao apostar na rotatividade progressiva e sustentada, permitia não só envolver os jogadores menos utilizados com os titulares (minimizando o risco e maximizando o sentimento de partilha), como também ter esses mesmos jogadores preparados para a fase mais adiantada da época.

Por outro lado, também um pouco fruto dos deslizes iniciais, assim que Salvio adquiriu a forma suficiente, Jorge Jesus jamais arriscou na mudança de elementos no onze (excepção feita à posição 10). Fossem jogos para a Taça de Portugal, Taça da Liga ou Campeonato, JJ foi “desgastando” ao máximo aqueles onze jogadores, tentando não perder o andar da carruagem. Ao fazer (finalmente) a rotatividade do plantel, fá-lo de uma assentada e de forma radical. Como seria de esperar, falhou!

Pior que isso, transmite uma ideia de falta de qualidade das segundas linhas do Benfica quando, na realidade, isso até pode nem ser verdade. Bastava esta gestão ter sido efectuada de forma equilibrada.
Assim, considero que o tal desgaste que tanto se fala nos jogadores do Benfica é uma falsa questão. Resulta do estilo de jogo mais agressivo e menos racional do Benfica quando comparado com o do Porto mas é, sobretudo, consequência da gestão do plantel menos eficiente de Jorge Jesus em comparação com o seu rival André Villas-Boas.

PS: Reparemos no jogo de hoje: o FCP acabou o jogo sem Sapunaru, Otamendi, Fernando, Moutinho, Varela e Falcao. Não deixou de fazer a sua gestão… mas fê-la de forma mais equilibrada.

sábado, 12 de março de 2011

O pêndulo da equipa


Numa equipa de sucesso todas as posições são importantes e podem fazer a diferença mas há uma posição no futebol moderno que está quase sempre na base de uma equipa sólida e regular. Refiro-me à posição de médio defensivo, ou também conhecido por trinco.

Eles não fazem dribles espantosos, não marcam muitos golos, não são normalmente os protagonistas principais no tão denominado futebol espectáculo. Trabalham escondidos e muitas vezes o seu valor na conquista da vitória não são devidamente reconhecidos dada a sua função ser de uma natureza mais discreta ao espectador menos atento ou mais leigo no futebol.

Os médios defensivos são hoje em dia na minha opinião uma posição de importância vital numa equipa uma vez que muitas vezes é a única figura que assegura uma ligação de qualidade entre a defesa e o meio campo. São também o primeiro verdadeiro obstáculo à progressão ofensiva do adversário, acabando por ser os trincos a ficar com uma boa quota parte dos roubos de bola e intercepções. Todo o equilíbrio posicional da equipa depende inevitavelmente das movimentações de um Javi Garcia, de um Fernando, de um Essien, de um Xabi Alonso. Foram certamente muitos jogadores importantes que deram o triplete a Mourinho a época passada mas tenho a certeza absoluta que se não houvesse alguém da qualidade de Cambiasso tal não aconteceria.

A ausência de qualidade desta posição ou até mesmo a ausência desta função na táctica e estrutura de uma equipa são talvez uma explicação mais que válida do seu fracasso. Alguém se recorda de um médio defensivo de qualidade que se tenha imposto na equipa leonina estes últimos anos?

É talvez uma das posições em que as equipas portuguesas se tem desleixado mais em investir e este pormenor pode revelar muito do futuro da qualidade do nosso futebol.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Dividir para reinar

Vivemos num mundo marcado pelo oportunismo e pela ânsia do poder. Disso todos sabemos.

As eleições no Sporting parecem ser o melhor exemplo deste retrato nacional que agora tracei. De facto, num momento particularmente delicado que o clube atravessa e que deveria redundar em união de todos os sportinguistas eis que se verifica precisamente o contrário.

Mais do que vontade de ajudar propriamente o clube, a ideia que me transparece é a de um conjunto de indivíduos que estavam sedentos que este momento chegasse. À medida que mais candidatos iam surgindo, outros despertavam a sua consciência e percebiam que afinal “não parecia tão mal também candidatar-me”.

Conclusão: são já seis os candidatos à presidência de um clube que é que o menor dos três grandes em termos de dimensão – social, económica e desportiva.

Confesso que já me perdi um pouco no emaranhado de listas que foram apresentadas mas muitas delas parecem-me sem qualquer consistência no projecto apresentado. No entanto, lendo em traços gerais aquilo que Bruno de Carvalho tem vindo a público transmitir, parece-me um candidato com ideias firmes e cuja intenção (ainda que encoberta) de contratar Domingos Paciência é uma boa solução atendendo à realidade leonina. Treinador conhecedor, jovem e com ambição.

Aliado a isto está o facto de contar com indefectíveis sportinguistas na lista como Augusto Inácio e Eduardo Barroso capazes de me fazer acreditar que estão lá, realmente, para servir o Sporting e não para se servirem dele.

O que importa perceber é que à mesma velocidade com que surgem novas listas, estão-se a aumentar as possibilidades de ruptura no seio do clube. Nenhum presidente eleito terá concordância sequer maioritária no seio dos notáveis leoninos para desenvolver um trabalho tranquilo e com o suporte humano e financeiro necessário.

E isso é um dado preocupante! Até porque quando muitos querem pouco se tem...

quarta-feira, 9 de março de 2011

A (in)dependência da imprensa desportiva portuguesa

A imprensa desportiva portuguesa intitula-se independente. Será que alguém acredita nisto? Eu não.

Faz-me um pouco de confusão como é que depois de um jogo em que o FCP ganha, de forma sublime, em Espanha ao Sevilha, há jornais que na capa põem a foto de Jorge Jesus a antecipar o jogo do Benfica contra o Estugarda; porque não recordar quando o Porto perdeu a Supertaça Europeia contra o AC Milan e, um diário desportivo português, publicou na capa: “Supertaça em mãos portuguesas: parabéns Rui Costa”

Da mesma forma que, de repente, alguma imprensa passou a dar um destaque brutal à Taça da Liga. Porquê? Porque, juntamente com a Taça de Portugal e com a Liga Europa, são as únicas competições em que o maior clube de Portugal ainda tem algumas hipóteses, dado que o título de campeão nacional já está (bem) entregue à equipa mais regular e que merece ser campeã – FCP.

Assim, com este post quero apenas reiterar a importância que a Taça da Liga tem: quase nenhuma!

Contudo, e percebendo que a imprensa desportiva é um negócio, e que faz as manchetes em função das vendas e não em função do mérito das equipas, entendo que importa termos a frieza para perceber quando é que uma manchete é parcial tratando-se muitas vezes de entrevistas encomendadas, títulos a pedido, etc.…, que conseguem facilmente influenciar aqueles que se deixam iludir com os títulos facciosos encomendados pelos clubes.

É um facto que a grandeza do Benfica leva a que a maioria das capas dos jornais seja do Benfica, com excepção do folhetim desportivo diário do FCP (por alguns denominado “O Jogo”). Contudo, e falando em concreto da Taça da Liga, importa percebermos que este é um exemplo que nos obriga a estar atentos para não nos deixarmos iludir sobre a orientação que os jornais desportivos querem que os leitores sigam. Aquando do jogo do Paços com o Nacional, foi destaque na capa de alguns jornais, as declarações do treinador do Paços dizendo que queriam fazer história se ganhassem ao Benfica. É um facto que farão história se isso acontecer mas, importa salientar que a Taça da Liga não tem a importância que alguns jornais lhe querem dar. Só tem essa importância, porque o Benfica está lá e os jornais estão condicionados por isso.

Assim, deixo apenas uma sugestão: porque não seguem os jornais desportivos o exemplo dos jornais espanhóis? Cada um assume a cor clubísitica que todos nós conhecemos e tudo fica mais simples – conseguimos perceber nitidamente a opinião que estes nos transmitem.

Parabéns à enorme independência que o melhor jornal digital consegue manter (maisfutebol) não estando refém de nenhum clube, ao contrário da imprensa desportiva em suporte papel.

PS: este texto foi escrito antes do início do jogo Braga - SLB. Mesmo assim, e independentemente do resultado, é mais que óbvio que o Benfica não tem a mínima hipótese de chegar ao título.

domingo, 6 de março de 2011

A importância indiscutível do finalizador


Por trás de uma equipa vitoriosa, há sempre um jogador incrível que se destaca e consegue dar a vitória nos jogos mais difíceis e aflitivos. Estes jogadores conseguem fazer a diferença nos momentos certos, simplesmente porque tem algo neles que os diferencie.

Ontem foi um jogo complicado no Dragão para o líder do campeonato. O esquema defensivo montado com a garantia de qualidade que tanto se reconhece às equipas de Machado estava difícil de quebrar. À medida que o tempo passava o empate ou até mesmo o perigo de derrota inesperada já pairava no ar. Até que surge um salvador, o tal jogador que consegue fazer a diferença e matar o jogo logo ali: Radamel Falcao.

Já tendo tido algumas oportunidades de ver Falcao jogar ao vivo, é um jogador interessantíssimo de acompanhar. Os movimentos que consegue delinear na frente de ataque denotam uma inteligência de jogo fora do comum. A forma como se antecipa, como corre para a desmarcação desenhando e prevendo logo uma estratégia de ataque são características de marca deste ponta de lança de enormíssimo potencial.

Falcao não ficará muito tempo em Portugal e terá sem dúvida um lugar num grande clube europeu e até lá só resta ao Porto tirar o máximo das suas potencialidades.

A posição de ponta de lança é aliás um sector em que o nosso campeonato carece de alguma qualidade. Tirando Benfica e Porto, não consigo vislumbrar mais clubes portugueses que estejam munidos de finalizadores de grande nível. Para agravar, as saídas um pouco inexplicáveis de jogadores como o Matheus do Braga e do ex-leonino Liedson nada ajudaram neste campo.

Talvez uma das explicações válidas para a carência que o futebol português apresenta nesta posição é a de que a visibilidade da posição de ponta de lança é inerentemente muito dependente da qualidade de construção de jogo de uma equipa e nós todos bem sabemos que o nosso campeonato Português em termos de nível de jogo neste momento muito tristemente se resume ao futebol praticado pelas equipas que ocupam as primeiras duas posições na tabela.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Virar à esquerda!

Desenganem-se todos os leitores que pensam que o FutebolStorming virou blog político e pretende sugerir orientações partidárias! Vamos mesmo falar de futebol nas linhas que se seguem…

Apesar de toda a crise económica que está a afectar grande parte dos países europeus, parece indesmentível que este continente continua a ser rei e senhor no que ao universo futebolístico diz respeito. De facto, não raras vezes temos a possibilidade de “sentir o pulso” a alguns jogadores do lado de lá do Atlântico cujo principal sonho na carreira passa pela possibilidade “de um dia jogar na Europa”.

Sejam eles de que nacionalidade for, todos manifestam vontade de se exprimir nas principais ligas de futebol europeias. De facto, os chorudos direitos de transmissão televisivos, os salários que roçam a aberração e as principais competições internacionais de clubes são itens que estão mais presentes na Europa e, como tal, não admira que os agentes do futebol – sejam eles jogadores ou não – vejam no mercado europeu o que Portugal vê na Alemanha…

Vem este meu post a propósito de um mercado futebolístico que mais que uma fonte de jogadores, deverá ser encarado como uma região onde o futebol está bastante evoluído tacticamente (sim, porque tecnicamente já é hábito!) – o da América Latina. Quando falo desta região, englobo não só os habituais campeonatos argentino e brasileiro mas também outros como o chileno ou uruguaio que são igualmente interessantes.

Certamente não estarei muito longe da verdade, ao afirmar que a grande maioria dos leitores tem/tinha a ideia pré-concebida de que o futebol praticado nesta região continua a basear-se em três pontos: 1.É um futebol com gente (demasiado) apaixonada a assistir; 2. As equipas são desordenadas tacticamente; 3.Existem muitos jogadores com pouca predisposição para correr.

Esta era, pelo menos, a ideia que eu tinha formada até há bem pouco tempo sobre estes campeonatos em geral.

No meio de toda a turbulência no futebol luso, decidi assistir esta semana a um jogo da Libertadores entre o Santos e o Cerro Porteno que me permitiu destruir por completo qualquer ideia negativa que ainda pudesse restar sobre estes campeonatos. Jogo intenso, apaixonante e sempre num nível alto, com jogadores de grande qualidade em ambas as equipas.

Para além dos já badalados Neymar e Iturbe, apontei os nomes de Roberto Nanni (ponta-de-lança argentino alto e possante que segura muito bem a bola), Jorge Nunes (Médio-defensivo) e de Diogo (Extremo brasileiro que actuou mais pelo flanco direito).

Os anos em que estes campeonatos eram encarados como muito distantes dos europeus parecem estar longe já. Precisamente por essa diminuição de diferença de qualidade, rigor e exigência entre estes dois mundos, o tal “período de adaptação” dos jogadores que provém destes mercados parece ser cada vez menor.

Em síntese, seja para alargar horizontes futebolísticos, para andar à procura de novos jogadores ou por mera paixão futebolística, virar à esquerda no mapa-mundo parece-me mesmo uma boa opção…

quarta-feira, 2 de março de 2011

Um estranho desgaste


Os Blues decididamente já tiveram melhores dias, apesar de ontem voltarem a mostrar um bocadinho dos seus tempos de glória ao bater o Manchester United, a verdade é que neste momento se encontram a 12 pontos do primeiro lugar, ou seja, praticamente arredados do título.

No meu ponto de vista, é uma situação um bocado esquisita uma vez que os principais jogadores vitoriosos continuam lá presentes tais como Terry, Essien, Lampard, Ashley Cole e Drogba e nem no tempo de Scolari as suas prestações se mostraram tão fracas.

Sempre vi o Chelsea como uma das equipas mais completas no mundo em todos os sectores, desde um dos melhores guarda-redes do mundo, passando pela defesa sólida comandada por Terry e apoiada por laterais velozes e repletos de experiência, um meio campo forte fisicamente e tecnicamente capitaneado por um inteligentíssimo Lampard cuja descida de rendimento que apresenta neste momento talvez seja a chave dos maus rendimentos do clube. Quanto à frente de ataque continua a contar com Drogba, um ponta de lança mortífero (mas só quando se encontra motivado e emocionalmente equilibrado), sem esquecer de um Anelka sempre perigoso e matador.

Os jogadores-chave continuam lá, a massa adepta continua a ser fervorosa, o dinheiro continua a não ser um problema. O que aconteceu a este Chelsea, porque veio abaixo tão rapidamente?

O que talvez explique este fenómeno Blue, é que talvez não seja tão linear que uma equipa cuja maior parte dos jogadores já se conhecem há um tempo considerável seja uma característica importante de sucesso. O que talvez seja realidade também é que um clube que apresente sempre os mesmos trunfos talvez acabe por se desgastar, a permanência dos jogadores durante anos consecutivos na mesma equipa talvez desgaste também a sua motivação, nada ajudado pelos casos extra-futebol que têm vindo à baila envolvendo jogadores do Chelsea (ex: WAGS de Lampard, Terry e Ashley Cole).

E claro que aqui se põe sempre em questão a capacidade de liderança para abalar as coisas e olear uma estrutura que apresenta alguns indícios de ferrugem. Não acredito que Ancelotti vá conseguir mudar muito as coisas, mas entretanto que aproveite bem o seu novo reforço ex-benfica.