sábado, 27 de agosto de 2011

Mourinho: um Deus humano e imperfeito

Mourinho neste momento é mais que um nome. Para muita gente, o simples soar da palavra “Mourinho” apela a uma associação emocional automática às seguintes qualidades: sucesso, vitória, gestão de topo, liderança, assertividade, competência.

Esta associação não se fez de um dia para o outro, mas quase. É o resultado de anos consecutivos de sucesso estrondoso que um treinador de futebol nos tem presenteado desde 2002.

Um dos seus pilares mais importantes na sua filosofia é jogar para a vitória e para tal Mourinho e a sua equipa técnica analisam detalhadamente cada adversário, e modelam a forma de jogar da sua equipa de acordo com as diferentes circunstâncias, obtendo sempre uma resposta adequada e perfeita por parte dos seus jogadores. Funcionou no Porto, funcionou no Chelsea, funcionou no Inter, mas para já ainda não funcionou no Real.

Vivem-se momentos de dúvida e de descredibilização do fenómeno Mourinho. Um Real repleto de estrelas futebolísticas, que já teve mais que tempo de se desenvolver, criar rotinas e operacionalizar o seu método de jogo continua desesperadamente impotente perante um adversário de consistência, eficácia e qualidade praticamente intransponíveis como o Barcelona.

O estilo futebolístico do Barcelona está a conseguir deitar por terra o paradigma Mourinho. Uma equipa que simplesmente não altera a sua forma de jogar independentemente do adversário, pouco se transforma durante o jogo, sempre fiel ao seu tiki taka e muitas vezes alavancada pelos momentos geniais de Messi, Xavi e Iniesta está a conseguir mais que o método trabalhoso e minucioso do planeamento jogo a jogo, dos powerpoints detalhados de Rui Faria, dos treinos quase científicos de preparação dos momentos de jogo.

O Real inicia uma época de tudo ou nada. Os adeptos merengues anseiam por algo estrondoso este ano, tendo por isso as suas expectativas bem no topo. Tendo em conta este contexto, será de esperar algum cuidado por parte de Mourinho no seu discurso e comportamento. Já por isso revelo que fiquei um tanto surpreendido com os episódios recentes que envolveram Mourinho na Supertaça espanhola, primeiro porque a competição em causa não têm a importância suficiente para iniciar já uma polémica de agressões e de vitimizações, segundo por que a própria atitude de agressão física poderá levar a uma banalização e desmistificação da figura Mourinho.

Entretanto, parece que o episódio foi ignorado em Bernabéu. Todos os adeptos continuam a apoiar cegamente José com cânticos e faixas de apoio de entre as quais uma me chamou a atenção: “Mou, o teu dedo assinala-nos o caminho.” Assim nascem as religiões.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Dinheiro não é tudo!

No decorrer desta semana dei por mim a ver alguns resumos da jornada da liga francesa e a pensar que o ego que tradicionalmente possuem é inversamente proporcional à qualidade do seu futebol. Decidi investigar no site Football Finance (que recomendo!) o orçamento das equipas que, no ano transacto, disputavam a primeira e segunda divisão.
Espanto dos espantos! O clube com orçamento mais baixo na Ligue 2 é superior ao orçamento anual deste ano do Gil Vicente em cerca de 2 milhões de euros! Mais ainda, o Marselha apresentou, o ano passado, um orçamento superior ao do FCP deste ano em 50 Milhões de Euros. Se isso se traduz em supremacia das equipas francesas sobre as portuguesas? Não me parece!
Vemos constantemente as nossas equipas a superiorizarem-se a outras com orçamentos infinitamente superiores (veja-se os casos crónicos de Marselha e Atlético de Madrid que saem sempre derrotados em confronto com equipas portuguesas supostamente do mesmo nível).
Isto só pode querer dizer uma coisa: somos bons a escolher jogadores, a negociar e, sobretudo, na qualidade dos nossos treinadores. Esta tem subido exponencialmente permitindo diminuir o fosso financeiro existente e aumentar o reconhecimento além-fronteiras do nosso campeonato, bem como aumentar a capacidade de atrair jogadores de maior nomeada.
Demos mérito quando ele existe!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Um momento único,,,


Hoje escrevo para agradecer a Portugal por me ter dado um momento único e fabuloso: (não, não estou a falar da Selecção de SUB-20…) Obrigado Godinho Lopes!
Quando pensamos que o ridículo chegou ao seu limite máximo, eis que aparece Godinho Lopes e mostra que afinal ainda há muita estupidez para ser espalhada pelo país.
A conferência de imprensa foi um momento digno dos tesourinhos deprimentes futuros. Naquela conferência, tentou desviar as atenções do fundamental: o facto de a equipa do SCP não jogar futebol.
Admitamos que contra o Olhanense o SCP jogou mal mas, mesmo assim, merecia ter ganho o jogo. Já contra o Nordsjaelland, o futebol apresentado pela equipa foi absolutamente miserável e deprimente.
Sendo assim, porquê vir falar para fora, acusar terceiros de responsabilidades que deveriam ser suas, e atirar as críticas para a arbitragem?
Parabéns a todos os árbitros pela solidariedade demonstrada com João Ferreira. Talvez Godinho Lopes o queira substituir como árbitro no jogo de logo mostrando que é capaz de não errar.
Se Godinho Lopes tiver um pingo de vergonha na cara, que venha a público pedir desculpa pela situação ridícula em que colocou o futebol português. Mais uma vez, seremos notícia mundo fora, mas pelas piores notícias.
Apenas ponho a seguinte questão: e se logo o árbitro prejudicar o SCP? O que virá Godinho Lopes fazer? Desiste do campeonato? Entra de luto em campo? Suicida-se? E ainda estamos na 2ª jornada do campeonato…
Irei apenas reconhecer credibilidade a alguém para falar de arbitragem, quando esse alguém tiverem a hombridade de reconhecer publicamente não só os prejuízos mas também os benefícios das equipas de arbitragem.
PS: até hoje, só vi um grande homem, que prometeu nunca falar de arbitragem e nunca o fez: Toni, ex-treinador do Benfica. Os meus parabéns por isso. A coerência é uma qualidade rara no futebol
PS1: Um bem-haja a Domingos Paciência e à sua coerência:
O Carlos Xistra teve uma noite muito má” – 13/08/2011, após o jogo SCP – Olhanense
“Não comento arbitragens, só comento os jogos” – 20/08/2011, antevisão Beira Mar - SCP

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Selecções Nacionais – que futuro?


Tenho acompanhado Portugal no Mundial de SUB – 20 e a cada jogo que vejo fico com uma certeza: podem não estar ali grandes estrelas individuais, mas existem ali jogadores tacticamente acima da média e um espírito de sacrifício fabuloso.

Podem não ganhar nada, mas já ganharam o respeito e o orgulho da maioria dos Portugueses.

Ao ver certos jogadores, apetece-me deixar algumas perguntas no ar para as quais não sou capaz de encontrar resposta:
- Alguém me consegue diferenciar em termos de qualidade futebolística Nuno Reis de Oneywu ?
- Porque se aposta em Franco Jara em detrimento de Nelson Oliveira?

- Mika? Não! Roberto é muito melhor!

- Roderick? Se calhar não, é melhor um central que jogava no Olhanense, de seu nome Jardel…
Estes são apenas alguns exemplos de como os clubes grandes preferem esbanjar dinheiro em desconhecidos, em vez de apostar em jovens portugueses, conhecedores da realidade nacional e com custos salariais muito mais reduzidos.

Provavelmente, dado que os euros envolvidos nos jovens portugueses são poucos, não permitem desvios, lavagens de dinheiro, comissões para empresários, dirigentes, etc.…

Enquanto a FPF não intervir e obrigar os clubes a jogar com um mínimo de jogadores nacionais, a aposta nos jovens portugueses será nula e o futuro das selecções nacionais, estará certamente em risco…
Vale a pena pensar nisto...

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O estatuto não garante qualidade

No futebol, os títulos arrecadados no passado conferem um estatuto a um jogador que por sua vez lhe dá uma aura de respeito por parte dos colegas e treinador. Um jogador que no seu palmarés inclui uma taça do mundo dá uma imagem de experiência e maturidade, pois significa que viveu e praticou futebol entre os melhores do mundo e venceu.

Por outro lado, o estatuto de um jogador que se baseia em títulos do passado não garante a qualidade de jogo no presente. A sua forma física pode não a ser a mesma e é muito provável que a motivação também não seja, já para não falar do declínio de qualidade de jogo natural que vem com a idade nos jogadores mais maduros.

Pondo de parte o julgamento da qualidade de decisão de não se incluir Capdevilla na convocatória para o play-off da Champions, a verdade é que é sempre admirável e de elogiar a coragem de um treinador tomar uma decisão com o esforço de ignorar o estatuto e as expectativas inerentes. Será importante destacar que também Capdevilla não demonstrou grande forma para já.

Poderemos pensar que este tipo de decisões pode ferir o orgulho do jogador e criar um clima de descontentamento. Acredito no contrário. Estas decisões simplesmente despertam e espicaçam a sua vontade de trabalhar e dar o seu máximo. Há que dar a entender a todos os jogadores, sem excepção, que o lugar nunca está assegurado e que as linhas entre estar dentro do campo a jogar e estar no banco ou a ver o jogo da bancada são bastante ténues.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Selecção Portuguesa – regresso ao futuro ou avanço para o passado?

Regressamos mesmo ao passado.
Alguém consegue encontrar uma explicação lógica para a convocatória de dois jogadores em fim de carreira que quase nada têm a acrescentar à selecção nacional?
Podemos discutir se Quim é ou não melhor que Rui Patrício ou Eduardo (este último corre sérios riscos de nem vir a ser convocado dado que não jogará com regularidade no Benfica).
Mas, mais do que discutir quem é melhor, importa discutir: quantos jogos oficiais de Quim viu Paulo Bento nos últimos 6 meses? Pois, ninguém se lembra… Zero!
Os particulares servem para fazer experiências e testar jogadores. Mas convém que essas experiências envolvam jogadores jovens com potencial para ser explorado no futuro e que possam vir a ser claras mais-valias para a selecção (Ventura é um bom exemplo de alguém que podia e devia estar no lugar de Quim).
O caso de Nuno Gomes é ligeiramente diferente: possui um estatuto que Quim não tem nem nunca há-de ter, sempre se comportou de forma correcta e exemplar, pode ser útil no balneário e actua numa posição claramente deficitária. Acrescente-se ainda que é um jogador razoável que, nos poucos minutos em que jogou no Benfica na época transacta, marcou golos (afinal, fez o que se pede a um avançado).
Contudo, todas estas características já eram de Nuno Gomes quando este actuava no Benfica. Foi a mudança para Braga que fez Paulo Bento mudar de ideias relativamente à (não) convocatória de Nuno Gomes?
Seria importante ouvir Paulo Bento sobre o “timing” da escolha de Nuno Gomes e sobre o potencial que Quim tem para dar à Selecção.
Para que se pudessem esclarecer alguns seres pouco esclarecidos, como eu…

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Haverá lógica?


Todos nós sabemos que futebol e emoção vivem de mão dada. Poucas serão as esferas das nossas vidas que comportam tanta emotividade, paixão e… subjectividade. O que para uns é um grande golo, para outros não passa de um lance fortuito; o que para uns será falta, para outros não representa mais do que uma clara simulação.

Visões díspares para um único desporto, portanto.
No meio de todo este emaranhado, é na pré-época que grande parte desta subjectividade que está intrínseca ao mundo futebolístico mais se revela. De facto, que referencial existe para analisar o valor de mercado dos jogadores? É simplesmente ao Deus dará?

Depois de uma semana marcada pelo episódio Roberto vs CMVM, o valor dos jogadores está na ordem do dia. Quando vemos o Manchester City dar 45 milhões de euros por um jogador como Kun Aguero percebe-se a desregulação que o mercado apresenta neste momento.
Actualmente, o preço dado por um jogador raramente representa o valor que realmente vale. Mais do que isso, traduz a demonstração de poderio financeiro que uns clubes querem fazer passar para o mercado. Alternativamente, os valores avultados poderão ser sinónimo de disputas ridículas entre clubes que, claramente, inflacionam o preço dos jogadores.

Hoje em dia, a falta de lógica predomina como nunca antes no futebol. A presença de fundos especializados e de magnatas nesta indústria conduziu o futebol a um estado caótico no que a este domínio diz respeito.
Tal como nos mercados financeiros, também neste mercado futebolístico, urge regular e colocar alguma lógica num mercado onde, de momento, não existe…

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O enevoado caso Roberto

A gestão de uma SAD desportiva não difere muito da gestão de outros tipos de SADs quando a lógica é vista em termos de rendibilidade, oportunidades de negócio mas também malabarismos contabilísticos.

A compra e venda de jogadores é uma das actividades centrais no que determina a saúde financeira de um clube de futebol, mas também é na sua negociação que se podem encobrir muitos negócios paralelos e favores com outros clubes e empresários.

As possibilidades de fraude podem ser imensas incluindo burlas, crimes fiscais e branqueamento de capitais. Uma compra ou venda de um activo com um preço obviamente sobrevalorizado torna-se evidentemente suspeito.

A suspeita começa quando, por exemplo, o Benfica contrata um guarda-redes que aquecia o banco no seu antigo clube e de qualidade ainda inconclusiva por um valor surpreendente de 8,5 milhões de euros. Muito se especulou em torno deste negócio e muito esforço fez o Benfica na tentativa de o justificar.

A verdade é que Roberto acabou por ser uma autêntica desilusão esta época, levando críticas de todos os lados desde adeptos, imprensa e até mesmo do seio interno do clube. As suas exibições deixaram muito a desejar e os seus erros foram determinantes nalguns jogos importantes dos encarnados.

Surge agora a notícia de que o Benfica consegue vender Roberto ao Saragoça num valor tangencialmente superior ao seu custo de aquisição (8,6 milhões). Um guarda-redes já sobrevalorizado consegue valorizar-se ainda mais após uma época decepcionante. Das duas uma: ou é um negócio no mínimo estranho e enevoado ou então afinal existe mesmo uma capacidade de negociação benfiquista fora do comum.