Após um breve período de
interregno, regressamos com mais uma entrevista. Agora com Pedro Barny que,
para além, da carreira relevante que teve enquanto jogador, surge como um
treinador com grande potencial.
Ao Pedro, agradecemos a sua
disponibilidade, desejando todo o sucesso possível!
1.O Pedro Barny é um dos
jogadores com mais jogos disputados no principal campeonato português. Olhando
para trás, arrepende-se de alguma decisão ou sente-se realizado pela sua
carreira?
Todas as decisões que tomei tiveram em conta o contexto em que se
produziram. Algumas que porventura não tiveram o efeito desejado, foram tomadas
em consciência, por isso não me arrependo de nenhuma delas!
2.Teve uma passagem fugaz pelo
Sporting. Como foi esse período e porque decidiu regressar ao Boavista?
A oportunidade de ir para o Sporting surgiu naturalmente face ao
percurso até aí, e assinei por 3 anos!! No fim do primeiro ano, no âmbito da
transferência dos 2 guarda-redes do Boavista para o Sporting, o meu nome surgiu
por exigência do Manuel José, treinador do Boavista, envolvido no negócio. Talvez
essa tenha sido uma das minhas más decisões, porque tinha custado muito chegar
a um grande clube e aceitei sair envolvido nesse negócio. Tinha sido dos
jogadores mais utilizados, e tinha o meu espaço já bem definido, mas não gostei
de ver o meu nome envolvido no negócio! Hoje entendo que a prioridade era a
contratação dos guarda-redes mesmo tendo de abdicar do meu concurso. Na altura
decidi sair!
3.Das 15 épocas que esteve no
futebol profissional enquanto jogador, mais de metade foram passadas com as
cores do Boavista. O que significa para si aquele clube? Tem intenções de, uma
forma ou de outra, poder vir a contribuir para que se reerga?
Significa muito, pois foi o clube onde comecei com 13 anos, e
que também era o meu clube, que também era do meu pai, e no qual o meu avô
tinha jogado como profissional! Neste momento, o meu pensamento está concentrado
na minha carreira...e com muita mágoa minha mantenho um diferendo em tribunal
com o clube!
4.Apesar de ser expectável que
todas as equipas do principal escalão da próxima época sejam orientadas por treinadores
portugueses, a verdade é que muitos ainda necessitam de emigrar para poder
provar o seu valor. É consequência de falta de oportunidades ou de abundância
de qualidade?
Creio que os dois fatores podem ser invocados! A qualidade da formação
dos treinadores portugueses aumentou, e isso reflete-se na qualidade do
trabalho!! O número de clubes não é suficiente para o número de treinadores com
qualidade, por isso alguns têm que buscar o seu espaço fora do país!
5.Apesar de uma carreira sólida a
nível interno e de por sete vezes ter sido internacional sub-21, nunca teve a
possibilidade de se estrear pela Seleção A. O que faltou na sua opinião?
Talvez tivesse faltado a seleção ter sido orientada por treinadores
diferentes. Provavelmente se alguns dos treinadores que me orientaram nos
clubes tivessem achegado à seleção, poderia ter acabado a carreira com algumas
internacionalizações no currículo.
6. Foi adjunto de João Alves.
Hoje pertence à equipa técnica de Manuel José. Adapta as suas ideias às ideias
do seu líder ou mantém a sua filosofia independentemente do seu superior
hierárquico?
Tenho, com certeza, as minhas ideias em relação ao processo de treino e
às opções a tomar, mas sou completamente solidário em relação à decisão final!
No entanto, nunca deixo de juntar a minha opinião para que o chefe de equipa,
possa ter mais dados para decidir melhor.
7.Em campo, enquanto jogador,
destacava-se pela sua serenidade. Tenta transportar essa característica para o
papel de treinador ou considera que este deve assumir uma personalidade mais
fervorosa?
Cada pessoa tem o seu perfil, por isso cada treinador tem que ter o seu
perfil! Não creio que alguém possa ter sucesso assumindo um papel que não é o
dele! Um dia cai a "máscara"...e não sai com naturalidade!!!
8.Qual o melhor jogador com quem
jogou? E qual o treinador que mais o marcou?
Foram tantos que seria injusto destacar algum, mas com certeza Figo,
João Pinto, Balakov, Sanchez....e outros não tão mediáticos mas com
potencialidades fora do vulgar!!! Em relação aos treinadores, fui orientado por muitos e de todos eles recolhi informação. De alguns, coisas muito boas...de outros coisas muito más!!
9.Pese embora a opinião que
muitos portugueses possuem de Manuel José, os constantes sucessos que continua
a obter parecem ser sinal evidente da sua qualidade. Como é trabalhar com ele?
Essa pergunta tem algo de subjetivo!!! Qual é a opinião que os
portugueses têm dele??? Como se chegou a alguma conclusão? Pela lógica da
pergunta parece querer dizer que a opinião não é boa, mas ele ganha!! Acho que
22 títulos, passagem por grandes clubes e os resultados também em clubes de
média dimensão falam por si!! A minha relação com ele é extremamente simples,
eu faço o meu trabalho com profissionalismo e ele faz o dele, o que resulta
numa relação fantástica!!
10.Que principais diferenças
observa entre os campeonatos africanos que já experimentou – angolano e egípcio
– e o português?
Há muitas diferenças, a começar pela própria sociedade, pela cultura e
mentalidade de cada povo. Os jogadores têm na generalidade boas condições
naturais mas quase todos evidenciam lacunas ao nível da formação!! Outro
problema é a organização dos campeonatos, com um poder muito grande das
federações sobre os clubes, dando prioridade sempre ao trabalho da seleção
nacional, o que provoca constantes alterações ao calendário competitivo!
11.Considera que Manuel José teve
razão nas críticas que efetuou à seleção nacional ou não se revê nelas?
Acho que ele disse o que muita gente pensava, porque se assim não fosse
não teriam sido tão mediatizadas!! De alguma forma, acho que até serviram para
criar mais um fator de motivação para o grupo, apesar de terem sido
completamente desvirtuadas a partir de um determinado momento...desde que os
resultados começaram a surgir!!
12.Tem o curso de nível 4 de
treinador e frequenta a Licenciatura de Gestão do Desporto no ISMAI. Ambiciona
fazer parte da nova geração de treinadores e vir a estabelecer-se em definitivo
como treinador principal?
Mais uma pergunta com muita subjetividade! Qual é a nova geração de
treinadores? Há alguma velha? Que diferenças existem entre elas? O grau
académico? Jesualdo Ferreira, Carlos Queirós, Vingada, Henrique Calisto, são da
nova ou da velha geração??
Claro que vou ser treinador principal, aliás voltei a trabalhar como
adjunto porque o convite para trabalhar com o Manuel José na seleção angolana
era irrecusável na altura em que foi feito!! Treinava o Espinho e mesmo
considerando que fiz um excelente trabalho, que estava a ter impacto no meio,
naquele momento achei que seria a melhor solução aceitar o convite!
13.Nos últimos anos recebeu
convites de equipas portuguesas?
Sim, recebi....mas como é evidente não o irei divulgar por questões
éticas!! Há colegas de profissão a trabalhar nos clubes que me convidaram!
14.Enquanto português que tem
vivido os últimos anos fora do país, que importância tem para si, blogues como
o FutebolStorming que tentam deixar opinião sobre o que se passa em Portugal?
São sempre mais uma fonte de informação e de conhecimento sobre o que se
passa no futebol em Portugal!! Quem está fora do país, é importante....devoro
tudo que tenha a ver com o país!!
Para finalizar, quero desejar muito sucesso para o blog e para todos os
que nele participam, direta ou indiretamente!!
E um grande abraço para todos os que trabalham no futebol em Portugal!!!
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