terça-feira, 14 de agosto de 2012

Entrevista a Pedro Barny

Após um breve período de interregno, regressamos com mais uma entrevista. Agora com Pedro Barny que, para além, da carreira relevante que teve enquanto jogador, surge como um treinador com grande potencial.
Ao Pedro, agradecemos a sua disponibilidade, desejando todo o sucesso possível!
1.O Pedro Barny é um dos jogadores com mais jogos disputados no principal campeonato português. Olhando para trás, arrepende-se de alguma decisão ou sente-se realizado pela sua carreira?
Todas as decisões que tomei tiveram em conta o contexto em que se produziram. Algumas que porventura não tiveram o efeito desejado, foram tomadas em consciência, por isso não me arrependo de nenhuma delas!
2.Teve uma passagem fugaz pelo Sporting. Como foi esse período e porque decidiu regressar ao Boavista?
A oportunidade de ir para o Sporting surgiu naturalmente face ao percurso até aí, e assinei por 3 anos!! No fim do primeiro ano, no âmbito da transferência dos 2 guarda-redes do Boavista para o Sporting, o meu nome surgiu por exigência do Manuel José, treinador do Boavista, envolvido no negócio. Talvez essa tenha sido uma das minhas más decisões, porque tinha custado muito chegar a um grande clube e aceitei sair envolvido nesse negócio. Tinha sido dos jogadores mais utilizados, e tinha o meu espaço já bem definido, mas não gostei de ver o meu nome envolvido no negócio! Hoje entendo que a prioridade era a contratação dos guarda-redes mesmo tendo de abdicar do meu concurso. Na altura decidi sair!

3.Das 15 épocas que esteve no futebol profissional enquanto jogador, mais de metade foram passadas com as cores do Boavista. O que significa para si aquele clube? Tem intenções de, uma forma ou de outra, poder vir a contribuir para que se reerga?

Significa muito, pois foi o clube onde comecei com 13 anos, e que também era o meu clube, que também era do meu pai, e no qual o meu avô tinha jogado como profissional! Neste momento, o meu pensamento está concentrado na minha carreira...e com muita mágoa minha mantenho um diferendo em tribunal com o clube!
4.Apesar de ser expectável que todas as equipas do principal escalão da próxima época sejam orientadas por treinadores portugueses, a verdade é que muitos ainda necessitam de emigrar para poder provar o seu valor. É consequência de falta de oportunidades ou de abundância de qualidade?
Creio que os dois fatores podem ser invocados! A qualidade da formação dos treinadores portugueses aumentou, e isso reflete-se na qualidade do trabalho!! O número de clubes não é suficiente para o número de treinadores com qualidade, por isso alguns têm que buscar o seu espaço fora do país!
5.Apesar de uma carreira sólida a nível interno e de por sete vezes ter sido internacional sub-21, nunca teve a possibilidade de se estrear pela Seleção A. O que faltou na sua opinião?
Talvez tivesse faltado a seleção ter sido orientada por treinadores diferentes. Provavelmente se alguns dos treinadores que me orientaram nos clubes tivessem achegado à seleção, poderia ter acabado a carreira com algumas internacionalizações no currículo.
6. Foi adjunto de João Alves. Hoje pertence à equipa técnica de Manuel José. Adapta as suas ideias às ideias do seu líder ou mantém a sua filosofia independentemente do seu superior hierárquico?
Tenho, com certeza, as minhas ideias em relação ao processo de treino e às opções a tomar, mas sou completamente solidário em relação à decisão final! No entanto, nunca deixo de juntar a minha opinião para que o chefe de equipa, possa ter mais dados para decidir melhor.
7.Em campo, enquanto jogador, destacava-se pela sua serenidade. Tenta transportar essa característica para o papel de treinador ou considera que este deve assumir uma personalidade mais fervorosa?
Cada pessoa tem o seu perfil, por isso cada treinador tem que ter o seu perfil! Não creio que alguém possa ter sucesso assumindo um papel que não é o dele! Um dia cai a "máscara"...e não sai com naturalidade!!!
8.Qual o melhor jogador com quem jogou? E qual o treinador que mais o marcou?
Foram tantos que seria injusto destacar algum, mas com certeza Figo, João Pinto, Balakov, Sanchez....e outros não tão mediáticos mas com potencialidades fora do vulgar!!! Em relação aos treinadores, fui orientado por muitos e de todos eles recolhi informação. De alguns, coisas muito boas...de outros coisas muito más!!
9.Pese embora a opinião que muitos portugueses possuem de Manuel José, os constantes sucessos que continua a obter parecem ser sinal evidente da sua qualidade. Como é trabalhar com ele?
Essa pergunta tem algo de subjetivo!!! Qual é a opinião que os portugueses têm dele??? Como se chegou a alguma conclusão? Pela lógica da pergunta parece querer dizer que a opinião não é boa, mas ele ganha!! Acho que 22 títulos, passagem por grandes clubes e os resultados também em clubes de média dimensão falam por si!! A minha relação com ele é extremamente simples, eu faço o meu trabalho com profissionalismo e ele faz o dele, o que resulta numa relação fantástica!!
10.Que principais diferenças observa entre os campeonatos africanos que já experimentou – angolano e egípcio – e o português?
Há muitas diferenças, a começar pela própria sociedade, pela cultura e mentalidade de cada povo. Os jogadores têm na generalidade boas condições naturais mas quase todos evidenciam lacunas ao nível da formação!! Outro problema é a organização dos campeonatos, com um poder muito grande das federações sobre os clubes, dando prioridade sempre ao trabalho da seleção nacional, o que provoca constantes alterações ao calendário competitivo!
11.Considera que Manuel José teve razão nas críticas que efetuou à seleção nacional ou não se revê nelas?
Acho que ele disse o que muita gente pensava, porque se assim não fosse não teriam sido tão mediatizadas!! De alguma forma, acho que até serviram para criar mais um fator de motivação para o grupo, apesar de terem sido completamente desvirtuadas a partir de um determinado momento...desde que os resultados começaram a surgir!!
12.Tem o curso de nível 4 de treinador e frequenta a Licenciatura de Gestão do Desporto no ISMAI. Ambiciona fazer parte da nova geração de treinadores e vir a estabelecer-se em definitivo como treinador principal?
Mais uma pergunta com muita subjetividade! Qual é a nova geração de treinadores? Há alguma velha? Que diferenças existem entre elas? O grau académico? Jesualdo Ferreira, Carlos Queirós, Vingada, Henrique Calisto, são da nova ou da velha geração??
Claro que vou ser treinador principal, aliás voltei a trabalhar como adjunto porque o convite para trabalhar com o Manuel José na seleção angolana era irrecusável na altura em que foi feito!! Treinava o Espinho e mesmo considerando que fiz um excelente trabalho, que estava a ter impacto no meio, naquele momento achei que seria a melhor solução aceitar o convite!
13.Nos últimos anos recebeu convites de equipas portuguesas?
Sim, recebi....mas como é evidente não o irei divulgar por questões éticas!! Há colegas de profissão a trabalhar nos clubes que me convidaram!
14.Enquanto português que tem vivido os últimos anos fora do país, que importância tem para si, blogues como o FutebolStorming que tentam deixar opinião sobre o que se passa em Portugal?
São sempre mais uma fonte de informação e de conhecimento sobre o que se passa no futebol em Portugal!! Quem está fora do país, é importante....devoro tudo que tenha a ver com o país!!
Para finalizar, quero desejar muito sucesso para o blog e para todos os que nele participam, direta ou indiretamente!!
E um grande abraço para todos os que trabalham no futebol em Portugal!!!

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