Nestes tempos recentes temos
assistido a uma máquina quase divinal no futebol. A perfeição do jogo culé tem
roçado a satisfação do ideal utópico de muitos amantes do desporto rei.
Os toques rápidos constantes, o
domínio avassalador na posse de bola, as constantes desmarcações que criam
múltiplas linhas de passe, o sufoco do pressing no portador da bola, a subida
rápida de uma segunda vaga que encosta e "enjaula" a equipa adversária, são apenas
algumas características de uma máquina como um cérebro pensante, que têm vida
própria como um todo e que se auto-disciplina. Essa máquina é o Barcelona.
No entanto, estou em querer que toda
esta máquina e o seu funcionamento se assemelha a um relógio suíço. Toda a fluidez e eficiência da máquina depende
largamente da qualidade ultra-refinada das suas peças únicas e exclusivas
que a integram. Bastará a substituição de uma peça-chave para
provocar o desmoronar de todo um sistema.
Ontem Pep Guardiola surpreendeu tudo
e todos com um alinhamento inicial estranho e arriscado. Certamente com o jogo
da Champions em mente e talvez já com um espírito de rendição no campeonato,
optou por deixar de fora duas peças-chave vitais do relógio suíço, Xavi e
Iniesta, substituindo-os por produtos de grande potencial mas visivelmente
inacabados, Thiago Alcântara e o “canterano” Sergi Roberto.
O resultado esteve à vista. A
quantidade de passes falhados no meio-campo fez o Barça assustadoramente parecer uma equipa banal e, embora também o relvado e as condições meteorológicas não
tenham sido as mais favoráveis, a ineficiência no sector médio acabou por se
alastrar a todo um sistema, intranquilizando a defesa e fazendo desesperar as
peças ofensivas. A consequência foi a entrega quase definitiva do campeonato
aos Blancos.
Tudo isto reforça a tese de que por
mais que perfeita seja a ideologia de um treinador e os seus processos de treino,
os resultados estão longe de ser garantidos se a qualidade de certos jogadores
com funções-chave não corresponder, pois como numa orquestra, o treinador agita
a batuta, mas são os jogadores que verdadeiramente fazem a música.
Sem comentários:
Enviar um comentário