sexta-feira, 4 de junho de 2010

Entrevista a Sérgio Pereira (Maisfutebol)

Apresentamos de seguida a entrevista a Sérgio Pereira, jornalista do site Maisfutebol e autor do espaço "Box-to-Box".

1. Como começou a carreira jornalística? Era um sonho de sempre, ou surgiu por mero acaso?
Por um mero acaso. Tirei a licenciatura em Ciências da Comunicação, vertente Publicidade. Tentei entrar no meio, mas nunca consegui. Mas nem tudo foi mau. Acabei o curso em 2000, o que coincidiu com o nascimento de uma série de jornais online. A partir daí foi um tiro de sorte. Enviei o currículo para o sítio certo na hora certa: o Desporto Digital.

2. O Maisfutebol tem vindo a crescer no número de leitores de forma assinalável. O que considera que o diferencia dos restantes jornais desportivos online?
Em primeiro lugar, é o único que faz verdadeiramente jornalismo online. Os jornais desportivos têm sites, mas as redacções dos sites não fazem reportagens, não dão notícias, não vão aos sítios: limitam-se a transcrever o que sai nas agências, o que passa nas rádios ou o que publicaram na edição papel. Em segundo lugar por perceber exactamente as especificidades do jornalismo online, que deve ter uma vertente mais leve, mas ao mesmo tempo ser mais rigorosa porque vive num espaço (a Internet) sem rei nem roque. Em terceiro lugar, porque tem bons jornalistas, gente que gosta muito da profissão.

3.Numa crónica de um jogo, o texto é elaborado pelo Sérgio Pereira jornalista, imparcial, descritivo, emocionalmente aniquilado. E num artigo de opinião, por exemplo, no Box-to-Box, quem escreve: o Sérgio jornalista ou o Sérgio adepto?
Emocionalmente aniquilado, também não... (risos) Escreve sempre o Sérgio jornalista. Mas escreve sempre o Sérgio jornalista num artigo de opinião ou numa crónica de jogo. Hoje em dia as pessoas vêem os jogos praticamente todos na tv e depois vão ler a crónica aos jornais. Portanto já sabem o que se passou, não vale a pena ser descritivo. O jornalista têm de ler o jogo, interpretá-lo e analisá-lo. O que exige uma opinião.

4.Simão Sabrosa disse um dia que muitos jogadores possuem relações privilegiadas com alguns jornalistas, o que é bom enquanto eles estão na mó de cima. Todavia, quando a situação se inverte, os jornalistas podem “arruinar” um jogador. Quem precisa mais de quem: o jogador do jornalista, ou o contrário? E até que nível existe a promiscuidade entre ambos?
Acho que promiscuidade é uma palavra forte. Existem jogadores que têm relações com muitos jornalistas, existem jogadores que têm relações com poucos jornalistas e existem jogadores que não têm relações com jornalistas. A maior parte das vezes são relações de amizade, em que nem sequer é obrigatório que alguém tenha alguma coisa a ganhar para além da própria amizade. A promiscuidade pode existir a um outro nível: sobretudo entre dirigentes e empresários.

5.Nos tempos actuais, não existe um grande clima de confiança em torno da selecção nacional, como no último mundial. Acha que a imprensa tem culpa nesta situação? Acha que a imprensa pode unir e empolgar a população em torno da selecção?
Não. A imprensa pode ser um veículo, mas não mais do que isso. A Selecção e o seleccionador é que têm de transmitir carisma. Foi o que aconteceu com Scolari e não acontece com Queiroz. Mas acredito que se a Selecção fizer um bom trabalho na África do Sul, crescerá naturalmente uma empatia com o público.

6.Em muitas actividades profissionais, os trabalhadores têm uma referência, um exemplo. Tem algum jornalista referência?
Santiago Segurola, director-adjunto da Marca. Pela cultura geral, que não se esgota no desporto, pela capacidade de análise, pela escrita e pelo equilíbrio de raciocínio.

7.Como é possível por vezes ler jornais desportivos em que o mesmo jogador num jornal tem uma classificação óptima, e no outro é classificado como dos piores em campo? É o futebol um desporto assim tão subjectivo?
O futebol é subjectivo, depende da interpretação de cada um. Quando um jogador atira uma bola ao poste, para uma pessoa pode ter falhado um golo e para outra pode ter criado uma situação de perigo. Mas não é só por isso. A verdade é que o futebol evoluiu muito mais depressa do que o jornalismo. As grandes empresas de comunicação enfrentam situações financeiras difíceis e faltam meios humanos aos jornais. Por isso, durante um jogo, um jornalista tem de fazer o trabalho de dois ou de três jornalistas. É natural que fique limitado por isso. É mau, mas é o reflexo de um país, e de um mercado, pequeno.

8.Os jornais desportivos (em papel ou online) guiam-se pelo mercado. Até que ponto a linha editorial é feita em função da dimensão de um clube, posição que ocupa, etc…?
A linha editorial não é feita pela dimensão ou posição de um clube. A linha editorial é uma coisa completamente diferente, é como o ADN de um jornal e que não muda ao sabor dos tempos. Naturalmente que a dimensão de um clube condiciona a quantidade de notícias que se faz. É normal seguir com mais atenção o Benfica do que a Naval, por exemplo. Em primeiro lugar porque o Benfica gera um maior número de notícias e em segundo porque interessa a um maior número de pessoas. Seguimos os dois clubes com o mesmo respeito, mas seguimos mais o Benfica porque o próprio público pede que o façamos.


9.Acha que a imprensa escrita tem os dias contados e será substituída apenas pela imprensa online? Acredita numa imprensa online paga pelo leitor através de uma assinatura mensal ou anual?
Nem uma coisa nem outra. Não acredito no fim da imprensa escrita. Haverá sempre espaço para jornais e haverá sempre espaço para o papel porque há coisas que a Internet não permite fazer. Podem é talvez ter de mudar, tornarem-se semanários, por exemplo, serem sobretudo espaços de análise, opinião e grande reportagem. Também não acredito em jornais online pagos. A democratização da Internet chegou a um ponto sem retorno.

10.No seguimento da pergunta anterior: a liberdade de imprensa existe, até que ponto? É o mercado um condicionante à liberdade de imprensa?
Não é o mercado que condiciona a liberdade de imprensa. Pelo menos no desporto não é. A liberdade de imprensa existe, claro, mas tem de ser cultivada. É necessário manter uma equidistância em relação aos clubes. O Maisfutebol é um exemplo paradigmático: não cultiva relações privilegiadas com ninguém, por isso tem liberdade em relação a todos. Às vezes isso custa-lhe determinadas informações, mas compensa pela credibilidade junto do público.

11.Como jornalista desportivo, qual foi para si o momento mais emocionante ou dos mais emocionantes que teve oportunidade de testemunhar e de transmitir aos seus leitores?
Provavelmente a final da Taça UEFA, em Sevilha, e a meia-final da Liga dos Campeões, na Corunha, quando o F.C. Porto ganhou com um golo tardio de Derlei. Mas também não esqueço o jogo do Boavista no Celtic Park, para as meias-finais da Taça UEFA, pelo ambiente absolutamente fantástico daquele estádio.

12.Como vê o número crescente de blogs em que toda a gente tenta ser “cronista”? Qual a sua opinião sobre o FutebolStorming?
É saudável. A beleza da Internet é mesmo essa, ser um espaço aberto à opinião e ao debate. Os blogs não ameaçam os jornais online porque o leitor sabe distinguir o que é feito com responsabilização editorial ou não. Gosto do FutebolStorming. Conseguem ter opiniões sérias, fundamentadas e feitas com um olhar responsável. Aliás, não sou o único a gostar, tenho um colega na redacção que é leitor assíduo do blog.

Em nome de todos os membros do blog, agradecemos toda a disponibilidade demonstrada, esperando que nos continue a deliciar com os seus artigos sempre pertinentes por muitos anos. Obrigado!

2 comentários:

  1. Ó Serginho, é pena é seres um bronco e não passares disso mesmo! Devias estar era nas obras porque escrever não será bem o teu forte!

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  2. Deixa me adivinhar. A tua licenciatura foi feita num domingo na Universidade Independente?

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