terça-feira, 21 de setembro de 2010

Afinal, são Humanos…

Seremos nós, simples mortais, capazes de perceber que aquele que falhou um penaltie tem tanta culpa como aquele que nos serviu um chá quando na verdade lhe pedimos apenas um café? Errou, e depois? Insultamos o homem do café e a mãe dele, tal como insultamos o futebolista? O que os diferencia afinal?

Até quando iremos julgar os jogadores como divinas perfeições que Deus mandou ao mundo com a missão de nos mostrarem que os humanos não erram? Até quando iremos deixar que o silêncio mudo do suicídio de alguns (Robert Enke) não seja capaz de nos fazer para e pensar?

Porque ele foi capaz de nos mostrar da forma mais cruel que também eles têm problemas, também eles sofrem, também somos, afinal, tão parecidos! Com ele conseguimos durante 30s da nossa vida acreditar que os jogadores têm família, afectos e emoções. Conseguimos até acreditar que eles podem errar porque afinal, há coisas mais importantes na vida.

Fomos capazes de estar cientes disso até ao momento em que o jogador da nossa equipa falhou um penaltie e aí insultamo-lo a ele, à mãe e à tia. Nesse dia apenas julgamos o futebolista enquanto amuleto que nos reforça o ego e nos alenta e não enquanto ser humano tão igual a nós.

Que o futebol seja uma festa, uma distracção, até uma forma de nos motivar, mas que isso não implique uma exigência sobre-humana para com os jogadores… Que não implique que um frango do Roberto nos faça ficar sem dormir uma noite, que a transferência de Moutinho para o FCP nos mostre que aquele Homem que um dia admiramos e idolatramos, passe a ser odiado apenas porque veste uma camisola de cor diferente da que estávamos habituados…

Exigimos aos jogadores aquilo que sabemos que eles não são capazes de dar. Exigimos que nos compensem emocionalmente pelos desequilíbrios que por vezes temos na nossa vida. Não conseguimos vê-los como iguais a nós… Porque ganham muito dinheiro, porque apenas treinam 2h por dia e porque aparecem na televisão, têm a obrigação de nos fazer sorrir, de nos dar alegrias, de nos dar aquilo que não somos capazes de obter no mundo que nos rodeia?

Até quando iremos ver os jogadores como máquinas e não como seres que sentem e sofrem tal como nós, independentemente da conta bancária?
Seremos algum dia capazes de ver este desporto como tal? Ou iremos preferir apenas alimentar o nosso ego, mesmo que isso implique uma visão subdesenvolvida da nossa parte?

Vale a pena pensar nisto…

1 comentário:

  1. Admiro este blog por isto mesmo.
    Parabéns! É um blog que dá gosto visitar e ler e tudo mais.
    Raquel Ferreira.

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