terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Será que sabem fazer contas?

Certamente que grande parte dos leitores já tiveram a oportunidade de ler na diagonal as contas dos três grandes do nosso futebol que recentemente foram publicadas. Caso não tenham tido essa oportunidade, recordo que o passivo dos três chega a cerca de 733 (!!) milhões de euros, sendo que o Benfica é responsável por grande parte deste valor. Numa época em que somos constantemente bombardeados com notícias de restrições ao crédito às empresas e aos particulares, espanta-me a “facilidade” com que os clubes de futebol conseguem ter acesso, todos os anos, a financiamentos avultados.

“O exercício de 2009/2010 apresentou um resultado consolidado negativo de 19 milhões de euros e um resultado operacional consolidado negativo de 11,3 milhões de euros. Em termos individuais, o exercício de 2009/2010 apresentou um resultado negativo de 20,3 milhões de euros e um resultado operacional negativo próximo dos 12,3 milhões de euros, os quais no período homólogo corresponderam aos valores negativos de 34,8 e 29,9 milhões de euros, respectivamente.”

Olha-se para esta frase que retirei de um Relatório e Contas 2009/2010 de um dos três grandes e choca-me a leviandade com que estes assuntos são tratados em praça pública. Alguém ouviu estes temas serem debatidos?

Movidos pela paixão que o futebol consegue transpor para cada um de nós, somos muitas vezes levados a deixar passar em claro estas situações que, a meu ver, são vergonhosas. Fosse uma “simples” empresa a apresentar números destes e todos saberíamos o que o Tribunal de Contas já teria efectuado junto dos gestores destes clubes.

A acrescer a estes factos, deixo ainda dois dados retirados do relatório da UEFA sobre as finanças e o estado dos clubes europeus (dados de 2008/2009):

- A média de endividamento dos clubes da Liga Zon Sagres colocava Portugal na 5ª posição de todas as ligas europeias. Este indicador é sem dúvida negativo, sendo que os clubes de 2 ligas do top 5 europeu (Alemanha e França) têm uma média de endividamento inferior à portuguesa;


- Existe um parâmetro que colocava Portugal na 1ª posição de todas as ligas europeias - a percentagem de receitas provenientes da venda de jogadores, onde os clubes portugueses lideram com 86%. Este indicador revela a fragilidade financeira dos clubes portugueses, tendo necessidade de realizar todos os anos grandes receitas na venda dos seus melhores jogadores para equilibrar as suas contas.

Assim, todos nós somos capazes de reconhecer as dificuldades financeiras dos clubes nacionais, onde o endividamento se torna completamente desajustado à dimensão dos clubes. Considerando que existem já vários clubes cujas principais receitas advêm da alienação de direitos desportivos de jogadores, percebe-se o risco financeiro de que estamos a falar.

Percebo que a emoção se sobreponha à razão no universo desportivo. Não compreendo, no entanto, que essa emotividade se manifeste igualmente junto de alguns gestores desportivos e é bom que estes tenham consciência disso sob pena de, daqui a uns anos, estarem inseridos num buraco sem saída...

1 comentário:

  1. Uma análise muito interessante que devia ser publicada pelos nossos pseudo-jornais desportivos!

    ResponderEliminar