segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Entrevista a Luís Tinoco - jogador do S.C. Beira-Mar


1.Subiste dos juniores do Gil Vicente para os seniores, onde não conseguiste permanecer e agarrar um lugar. Entendes que existe um fosse demasiado grande entre juniores e seniores?
Existe claramente um grande fosso entre juniores e seniores, visto que são intensidades de jogo completamente diferentes. Claro que nos grandes clubes essa diferença é menos significativa mas nos clubes de menor dimensão essa diferença nota-se bastante.

2. Foste um dos três classificados no programa televisivo Soccastars. Consideras que isso foi uma rampa de lançamento ou um deslumbramento?
Não foi nem uma coisa nem outra, visto que, não tirei dividendos nenhuns dessa situação profissionalmente. Mentalmente ajudou o quanto baste. Consegui, a partir daquela altura, lidar melhor com a pressão e deu-me alento para continuar uma vez que tinha sido dispensado dos juniores do Gil Vicente.

3. Agora que começaste uma nova aventura num clube de maior dimensão e num campeonato indiscutivelmente mais competitivo, sentes de alguma forma uma maior pressão e responsabilidade de te mostrares ao melhor nível?
Essa pressão existe indiscutivelmente porque já passei por cá uma vez, embora fosse bastante novo, e as coisas não correram como esperaria. Tenho agora a segunda oportunidade de jogar ao mais alto nível e de provar a muita gente que tenho valor para estar aqui, embora no passado não tenha sido tão maduro e aconselhado como desejaria.

5. Tiveste que sair da tua cidade e do teu país muito novo para, mais tarde, ser possível regressar. Sentiste que, de facto, os clubes nacionais não apostam devidamente no jogador nacional?
Os clubes portugueses subvalorizam claramente os jogadores nacionais, optando muitas vezes por preferir jogadores estrangeiros, nomeadamente sul-americanos, obrigando por vezes os jogadores a procurarem trabalho fora do país para se valorizarem. Acho que em relação a toda esta situação estamos muito atrás de outros países europeus que dão sempre preferência aos jogadores do próprio país, criando inclusive leis que obrigam os clubes a colocar ou um número restrito de estrangeiros ou como em Itália cada equipa deve ter no mínimo 6 a 7 jogadores das suas camadas de formação.

6. Em Portugal é mais do que banal atribuir as culpas dos resultados aos árbitros. Acreditas mesmo em perseguições ou erros premeditados ou entendes que tudo isto não passa de desculpas de forma a desviar atenções para os verdadeiros problemas da equipa?
A minha opinião sobre isso é muito simples. Eu acredito, e já foi mais que debatido, que a premeditação é um facto mesmo sendo em pequena escala. Acho que a grande parte dos erros arbitrais existem pela dificuldade de análise devido à velocidade com que os lances acontecem, alguns dos quais nem os telespectadores com várias repetições e de vários ângulos os conseguem desvendar, e pela falta de capacidade da federação de profissionalizar os nossos árbitros.

7. Este ano actuaste, pela primeira vez, contra um dos grandes do futebol português - o Futebol Clube do Porto. Pelo que te pudeste aperceber o FCP está assim tão forte como se diz? Que jogador destacarias desse jogo?
Neste momento o Futebol Clube do Porto é a equipa mais forte e com mais condições para ganhar o campeonato. Tem uma grande estrutura, tanto a nível técnico como a nível mental sendo esta última a mais-valia que André Vilas Boas introduziu neste novo Porto. Não consigo destacar apenas um jogador do Porto visto que todos eles são importantes nas respectivas funções.

8. Muitos consideram a função de lateral moderno uma das mais difíceis de pôr em prática num jogo de futebol. Concordas?
Penso que todas as posições têm a sua dificuldade, devido também à especificidade de cada uma. A minha posição é, de facto, uma posição difícil mas das mais vantajosas do futebol moderno. Se tu conseguires juntar um bom jogo defensivo e um bom jogo ofensivo és sem dúvida alguma um dos jogadores mais importantes da equipa.

9. Num exercício de auto-avaliação, és capaz de enumerar duas das tuas melhores qualidades e dois defeitos, futebolisticamente falando?
Duas das minhas melhores qualidades são o cruzamento, e o passe longo. Dois dos meus maiores defeitos são falta de concentração e por vezes falta de capacidade de me motivar a mim próprio.

10. Qual o jogador que mais admiras e cujo estilo te identificas mais?
O jogador que mais admiro e que mais me identifico, já deixou o futebol, é o Rivaldo.

11. Recentemente, entrevistamos um preparador físico que diz não acreditar em “picos físicos de forma”. Enquanto jogador sentes o mesmo ou, por outro lado, entendes que há uma altura da época em que atinges a plenitude física e depois a tendência é descendente?
Acredito em ambas, isto é, se uma equipa tiver um treinador que trabalha eficazmente a nível mental, essa equipa provavelmente não terá picos de forma visto que terá sempre a equipa motivada sendo a motivação uma parte fundamental da boa forma de um jogador. Se, por outro lado, uma equipa tiver um treinador que não trabalha tão bem a nível mental então essa equipa terá os tais picos de forma, visto que o estar bem fisicamente não chega para se dar o melhor rendimento.

12. Muitos criticam o facto de o futebol seguir cada vez mais um rumo demasiado táctico e pouco espectacular. Como defesa, notas que de facto há uma tendência para privilegiar a rigidez e o rigor defensivo em detrimento da liberdade criativa e ofensiva?
Claro que o futebol moderno é cada vez mais exigente tanto a nível táctico, como físico e como mental. Mas eu acredito que o futebol de hoje permite aos defesas laterais (são os únicos defesas que participam nas manobras ofensivas) participarem mais ofensivamente que no futebol de há 15 ou 20 anos atrás, sendo um contra-senso, falarmos neste rigor táctico permitir a participação de defesas no ataque.

13. Qual o treinador que mais te marcou até hoje e porquê? E o colega de equipa?
O treinador que mais me marcou até hoje foi António Fidalgo, visto que era um treinador que simplificava o futebol ao máximo e com isso tornava as suas equipas bastantes eficazes. Em relação ao colega de equipa, é difícil dizer apenas um que me tenha marcado porque em todos os planteis aparecem sempre aqueles com que te identificas mais, e aqueles com que te identificas menos.

14. Se pudesses fazer um onze com os melhores jogadores que já foram teus colegas de equipa, quem escolherias?
O onze seria: como guarda-redes Sasa, defesas seriam Pedro Coentrão (é dos tais jogadores que não se entende o porquê de andar nas divisões inferiores), Alessandro Turone, Hugo, Luís Tinoco. No meio campo teria Bruno Tiago, Luca Minopoli e Luís Coentrão. Na frente teria Carlitos, Rui André e Cicarelli.

15. Até suportado no facto de a posição que ocupas ser apontada como uma das grandes carências, a Selecção Nacional é um sonho ou uma mera utopia?
Depois de ter conseguido chegar a 1ª liga a selecção passou a ser um sonho como para qualquer outro jogador. De facto a minha posição e de grande carência sendo isso também uma motivação extra.

16. Qual o melhor jogador do campeonato na tua opinião?
Temos grandes jogadores no nosso campeonato mas para mim o melhor é Pablo Aimar. Tem, sem dúvida alguma, uma qualidade muito acima da média. É um jogador de classe mundial.

17. Já conhecias o FutebolStorming? Queres deixar algumas palavras?
Ainda não conhecia o FutebolStorming, mas acho que é uma grande iniciativa vossa que demonstra capacidade de empreendimento. Um grande abraço para todos e boa sorte.

Agradecemos a tua colaboração com o FutebolStorming e, em nome de todos, desejamos-te a maior sorte na tua carreira!

Um grande abraço!

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